Jornal Estado de Minas

NOVA YORK

Produtores e distribuidores de opioides dos EUA enfrentam um júri pela primeira vez

Os produtores, distribuidores e vendedores de opioides compareceram perante um júri pela primeira vez nesta terça-feira (29) para responder sobre sua responsabilidade pela devastação causada por analgésicos, que foram responsáveis por mais de 500.000 overdoses nos Estados Unidos em 20 anos.



"Este caso é sobre uma coisa: ganância corporativa". Assim começa a denúncia que é a base desta ação no tribunal do estado de Nova York.

O caso foi apresentado em 2017 por vários municípios do estado, que dizem ter gasto "quantias astronômicas" para enfrentar a "epidemia de opioides", e desde então se somaram outras comunidades.

A princípio, tinha como alvo todos os atores da rede, mas a Purdue Pharma, o laboratório no centro da crise, declarou falência em 2019.

Outras empresas chegaram a acordos 'in extremis' com os tribunais para evitar comparecer perante a justiça. O laboratório Johnson & Johnson concordou no domingo em pagar 230 milhões de dólares e parar de produzir e vender esses medicamentos.

A ação coloca 70 entidades públicas contra sete gigantes do setor, entre elas o grupo farmacêutico Teva, Allergan, a distribuidora Cardinal Health e Amerisource.

- Pinóquio -

Os acusados terão que justificar as estratégias de marketing adotadas no final dos anos 1990 e que, de acordo com os demandantes, incentivaram os médicos a prescreverem esses analgésicos, apesar de sua natureza altamente viciante.



"Os produtores enganaram médicos e pacientes garantindo-lhes que o risco de dependência era baixo", disse Jayne Conroy, que representa o condado de Suffolk, na abertura do julgamento. "Quero que pensem em Pinóquio, com seu nariz comprido, quando ouvem suas mentiras", acrescentou ele aos membros do júri.

"A prioridade deles não era se a droga era perigosa, mas o dinheiro que poderiam ganhar", concordou Hunter Shkolnik, do condado de Nassau, lamentando que os analgésicos criaram "um ciclo de dependência".

Muitos usuários se viciaram, aumentaram o uso e acabaram recorrendo a drogas ilícitas como a heroína e o fentanil, um poderoso opiáceo sintético.

Os réus sustentam que essas drogas foram aprovadas pelas autoridades regulatórias e que suas atividades estavam sujeitas a controles.

Esses tipos de argumentos foram usados em outras jurisdições. Uma ação federal contra distribuidores está em curso na Virgínia Ocidental e produtores são julgados atualmente em um tribunal da Califórnia.

Mas é a primeira vez que um júri, composto por seis membros e seis suplentes, se reúne para decidir o caso. E poucos processos reúnem tantos atores, todos eles rodeados por um grande número de advogados.

Na ausência de uma sala suficientemente grande, o tribunal de Nova York realizou o julgamento em um auditório de uma universidade na cidade de Central Islip, Long Island. As audiências devem durar de seis a oito semanas pelo menos.

WALGREENS BOOTS ALLIANCE

TEVA PHARMACEUTICAL INDUSTRIES

CARDINAL HEALTH



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