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Estado de Minas SANTIAGO

Uma acadêmica mapuche preside Assembleia Constituinte no Chile


04/07/2021 20:37 - atualizado 04/07/2021 20:37

A acadêmica e linguista mapuche Elisa Loncón presidirá a Assembleia Constituinte que redigirá a nova Constituição chilena, que foi instaurada neste domingo (4) após protestos que causaram fortes tensões.

Com cerca de três horas de atraso devido a protestos e reclamações de alguns constituintes que criticaram uma forte repressão policial contra os manifestantes, a relatora do Tribunal de Eleições, Carmen Gloria Valladares, que presidiu a solenidade, passou a nomear um por um os 155 constituintes.

Enquanto isso, continuavam ocorrendo alguns confrontos entre as forças especiais da polícia e um grupo de manifestantes que tentavam atravessar o cordão de segurança em torno dos jardins da antiga sede do Congresso em Santiago, local onde a cerimônia foi realizada por medidas sanitárias.

Feito o juramento, iniciou-se a eleição do presidente do órgão. Na segunda votação, a acadêmica mapuche Elisa Loncón foi eleita com 96 dos 155 votos dos constituintes.

"Esta Assembleia vai transformar o Chile", declarou Loncón, enfatizando que este "sonho" representará a pluralidade do país e ela trabalhará para estabelecer os direitos sociais, para cuidar da Mãe Terra, incluindo o direito à água.

"É um sonho de nossos antepassados e esse sonho se realiza; é possível, irmãos e irmãs, colegas, re-fundar este Chile, estabelecer uma relação entre o povo Mapuche, as nações originárias e todas as nações que compõem este país. É o primeiro sinal de que esta Assembleia vai ser participativa", acrescentou.

- "Sabedoria e prudência" -

Loncón, de 58 anos, uma acadêmica do Departamento de Educação da Faculdade de Humanidades da Universidade de Santiago e especialista em educação intercultural bilíngue, subiu ao palco vestida com um traje típico e carregando uma bandeira mapuche, após iniciar sua saudação, falando em mapudungún, a língua de seu povo.

A acadêmica ocupa uma das 17 cadeiras reservadas aos povos indígenas na Assembleia que redigirá a nova Constituição chilena em substituição à herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), solução política que o país encontrou para acalmar os protestos iniciados em outubro de 2019 que exigiam maior igualdade social.

Desejo-lhe sabedoria, prudência e força para orientar a Assembleia para uma boa Constituição, respeitando seu mandato e respeitando nossas tradições republicanas e valores de nosso povo", declarou o presidente Sebastián Piñera, sobre Loncón.

Como vice-presidente, foi eleito o advogado constitucional Jaime Bassa, constituinte de uma lista de esquerda da região de Valparaíso (centro). "Temos muitos desafios pendentes, que são as feridas que surgem do processo social que nos trouxe até aqui", disse Bassa, ao iniciar seu mandato.

Ao final da cerimônia, Loncón informou que a diretoria se reunirá nesta segunda-feira para definir questões administrativas e à tarde iniciará a primeira sessão. Um dos primeiros pontos a serem discutidos será o pedido de anistia aos detidos nos distúrbios da revolta social.

- "Sem mais repressão" -

Quando a sessão começou com todos cantando o hino nacional, houve apitos e gritos de alguns constituintes dizendo: "Sem mais repressão!". Aproximaram-se da mesa onde Valladares lhes juramentaria e o clima de grande tensão a levaram a suspender temporariamente a cerimônia.

"Queremos uma festa democrática e não um problema, vamos suspender a sessão por alguns minutos", anunciou Valladares ao decidir suspender a cerimônia, no momento em que um grupo de constituintes, em sua maioria da Lista do Povo, saíram às ruas para exigir que as forças especiais se retirassem da área, no centro da capital.

Também houve manifestações em torno da Plaza Italia, o epicentro das manifestações sociais que eclodiram no Chile em outubro de 2019.

- Diversidade -

Constituintes Aymarás e Mapuche realizaram cerimônias em Santiago antes da instauração da Assembleia Constituinte.

"Harto newen. Amulepe taiñ weichan": muita força e que a luta continue, disse à AFP Daniel Antigual, um aposentado de 60 anos que acompanhava um grupo mapuche, o povo indígena mais populoso do Chile, ao pé do Cerro Huelén (Cerro Santa Lucía como se identifica na paisagem de Santiago) e em mapudungún.

A heterogeneidade dos 155 integrantes da Assembleia Constituinte, em sua maioria independentes com afinidades de esquerda e sem experiência em cargos públicos, obrigará que se alcance acordos.

Mas essa mesma diversidade de posições e origens alimenta o temor de que as discussões se arrastem e, finalmente, o texto não consiga atender às expectativas dos cidadãos.

"O país inteiro está representado e eles vão sentar para conversar, falar sobre o país que queremos. Pela primeira vez vejo que há uma instância em que os poderes de fato não estão por trás", disse à AFP o padre jesuíta Felipe Berríos, uma das vozes mais influentes do Chile..

A tensão já havia se instalado nos dias anteriores, por causa das petições de alguns dos constituintes.

Na véspera, 60 constituintes assinaram uma carta exigindo "garantias democráticas para a instalação da Assembleia", na qual reclamam, entre outros pontos, a libertação dos presos do levante social de 2019.

A Assembleia terá nove meses - prorrogáveis por mais três meses - para redigir o novo texto, que será submetido a plebiscito de ratificação com voto obrigatório.


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