Após vários dias de suspense, e para espanto geral, o carismático e polêmico Zuma se rendeu.
Zuma ganhou notoriedade ao lado de Nelson Mandela - quando ambos estavam na prisão - antes de se tornar o temido chefe de Inteligência do Congresso Nacional Africano (CNA) no exílio, na época do Apartheid.
"O presidente teflon", como o chamam seus críticos por sempre escapar da Justiça, manteve o país em suspense até a meia-noite de quarta-feira, quando se cumpriu o ultimato imposto à sua prisão.
Zuma, de 79 anos, foi condenado na semana passada pelo Tribunal Constitucional a 15 meses de prisão por se recusar a testemunhar aos investigadores anticorrupção.
Sua prisão marca um momento histórico para a África, pois é a primeira vez que um ex-governante é preso por se recusar a responder em uma investigação de corrupção.
Zuma montou uma defesa de última hora e se recusou a se entregar na noite de domingo, como o tribunal ordenou.
De acordo com a decisão, a polícia tinha três dias para prendê-lo, caso ele não se entregasse.
- Corrupção e nepotismo -
Após nove anos no cargo, Zuma deixou o poder à força em 2018 e foi substituído por Cyril Ramaphosa. Seu mandato foi marcado por escândalos de corrupção e de nepotismo.
Muitos sul-africanos saudaram a prisão de Zuma, que pode marcar uma nova era de fortalecimento do Estado de direito.
"Ninguém está acima da lei" repetiram, como um mantra, várias testemunhas e personalidades em canais de televisão nos últimos dias.
A ícone anticorrupção Thuli Madonsela saudou "um dia de glória, pois" a prisão de Zuma "demonstra que o Estado de direito prevalece".
Se o ex-presidente não tivesse ido para a prisão, "isso teria causado uma onda de choque no sistema", comentou Mandonsela, em declaração à televisão pública nesta quinta-feira.
As autoridades criminais confirmaram que Zuma "foi admitido para começar a cumprir sua pena de 15 meses no Centro Correcional de Estcourt", em sua província natal de KwaZulu-Natal.
Horas antes de se entregar, a polícia avisou que estava preparada para prender Zuma à meia-noite.
O ex-presidente passou dez anos na prisão da Robben Island junto com Nelson Mandela, durante a era do Apartheid.
Ontem, seus defensores enviaram uma carta ao tribunal, pedindo um adiamento de última hora, o que não aconteceu.
O ex-presidente também pediu ao Tribunal Constitucional que reconsiderasse a ordem de prisão, solicitação que será analisada na próxima segunda-feira (12).
O ex-presidente continua a ter um peso importante entre autoridades e membros do governo.
No fim de semana, disse a seus apoiadores que haveria um caos, se a polícia "ousasse" prendê-lo.
Nascido em uma comunidade rural onde não recebeu educação formal, ele se tornou um dos líderes do ANC durante a luta contra o Apartheid.
Apesar das tensões internas, o ANC disse que não interferiria no processo judicial de Zuma.
O ANC no poder elogiou uma vitória para "a independência da justiça". No entanto, "sem nenhuma dúvida", o episódio é "difícil de viver", reconheceu o partido, que pediu "calma e respeito das regras".
Por sua vez, a Aliança Democrática (oposição) afirmou que "não se pode desafiar a lei com impunidade".
"Zuma e seus apoiadores devem ser considerados responsáveis" por seus atos, disse a Fundação Mandela.
Zuma também foi acusado de participar de um caso de suborno há mais de 20 anos.
Ele enfrenta 16 acusações de fraude, corrupção e crime organizado pela compra, em 1999, de jatos de combate, barcos de patrulha e equipamento militar de cinco empresas europeias por milhões de dólares.
JOANESBURGO