Esse texto da representação russa, apresentado na mesa do Conselho logo após a formalização do projeto proposto pela Irlanda e pela Noruega, que solicitou uma extensão de um ano, evoca uma "possível prorrogação" após uma análise do secretário-geral, adiantou uma das fontes.
É a primeira vez que a Rússia, que tem poder de veto no Conselho e é aliada convicta do governo sírio, levanta a possibilidade de prorrogar a autorização. Antes, Moscou queria bloquear a ajuda transfronteiriça, argumentando que continuar a fornecê-la sem a aprovação de Damasco violava a soberania da Síria.
Os Estados Unidos destacaram nas últimas semanas que viram a renovação da autorização da ONU como um teste de possível cooperação entre Rússia e Washington, após uma reunião realizada em junho na Suíça entre o presidente americano, Joe Biden, e seu par russo, Vladimir Putin. Durante a reunião, Biden pediu a prorrogação da ajuda transfronteiriça, que expira no sábado.
- Um ano inteiro -
Nesta quarta-feira, em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, disse que os Estados Unidos queriam uma prorrogação por um ano inteiro.
"Deixamos bem claro que manter o acesso transfronteiriço é um imperativo humanitário, porque milhões de vidas estão em risco", disse Price. "Ouvimos muito claramente de agências da ONU e ONGs em todo o mundo que 12 meses são essenciais para o seu trabalho de entrega de ajuda humanitária de forma confiável enquanto gerencia o longo processo de aquisição", explicou.
A entrega de ajuda na Síria - necessária para 12,3 milhões de pessoas, a maioria da população, segundo a ONU - é feita no momento por uma única passagem: Bab al-Hawa, na fronteira com a Turquia.
O projeto proposto pela Irlanda e pela Noruega, dois membros não permanentes encarregados do componente humanitário na Síria, prevê a prorrogação por um ano da autorização de passagem por Bab al-Hawa, exigida pela ONU e por organizações humanitárias. Renovar a autorização "por, pelo menos, 12 meses é uma linha vermelha" para os Estados Unidos, Reino Unido, França e vários outros membros, disse um diplomata à AFP sob condição de anonimato.
Washington, Londres e Paris, todos membros permanentes do conselho, têm poder de veto. Por sua vez, desde o início do conflito na Síria, há uma década, a Rússia usou seu veto 16 vezes em resoluções relacionadas e a China o fez 10 vezes.
Nesta sexta-feira, o Conselho deve votar tecnicamente sobre a resolução ocidental, antes de votar a da Rússia. "Que comecem os jogos", disse outro diplomata à AFP, também anonimamente, depois que os dois projetos foram anunciados. Até o momento da votação, ainda poderia haver negociações para se chegar a um consenso sobre um texto único.
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