O governo de Cuba registrou ontem a primeira morte relacionada aos protestos devido à escassez de alimentos e vacinas contra a COVID-19 que atingem o país desde o fim de semana. Segundo o Ministério do Interior, uma pessoa morreu na segunda-feira, na periferia de Havana. A Agência Cubana de Notícias informou que a vítima foi identificada como Diubis Laurencio Tejeda, de 36 anos. O governo lamentou a morte, mas não esclareceu as circunstâncias em que ela ocorreu.
Mais cedo, o governo reforçou o policiamento nas ruas do país, enquanto o presidente Miguel Díaz-Canel acusa os cubano-americanos de usarem as redes sociais. Cuba amanheceu sem internet móvel e com uma forte presença policial nas ruas de Havana, após milhares de cubanos saírem às ruas em protesto contra o governo e a crise econômica e sanitária que atravessam.
Na segunda-feira, dezenas de mulheres reunidas em frente às esquadras da polícia tentavam obter informações sobre o paradeiro de maridos, filhos e parentes presos ou desaparecidos durante as manifestações.
Até ontem, as autoridades não haviam divulgado um número oficial de detenções, mas existe lista provisória elaborada por ativistas locais que conta com 65 nomes só em Havana.
Entre os detidos há personalidades conhecidas, como o artista Luis Manuel Otero Alcántara, o dissidente moderado Manuel Cuesta Morúa e o dramaturgo Yunior García Aguilera. As autoridades cubanas cortaram o acesso às principais plataformas de redes sociais para tentar deter o fluxo de informação sobre as manifestações contra o governo, denunciou o site de uma organização de monitoramento. Os dados do grupo NetBlocks, com sede em Londres, mostraram interrupções desde segunda-feira no WhatsApp, Facebook, Instagram e também em alguns servidores do Telegram.
Ontem, houve protestos de cubanos residentes no Uruguai e Equador contra o governo do presidente Miguel Díaz-Canel. Em Montevidéu, os manifestantes se reuniram na Praça da Independência.
O bloqueio foi semelhante ao imposto durante os protestos do chamado Movimento San Isidro (MSI) pela liberdade artística em Havana, em novembro de 2020, disse o grupo. Os Estados Unidos pediram que o governo cubano suspenda as restrições à internet e renovou apelo à libertação dos manifestantes detidos. “Fazemos um apelo aos líderes de Cuba para que demonstrem moderação e respeito pela voz do povo, abrindo todos os meios de comunicação, tanto digitais como não digitais”, disse à imprensa o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.
A congressista María Elvira Salazar, representante de um distrito do Sul da Flórida onde reside uma grande comunidade de cubanos-americanos, disse em um tuíte que “o governo está fechando a internet na ilha” e “não quer que o mundo veja o que está acontecendo”. Medidas semelhantes foram tomadas por outros governos em resposta a movimentos de protesto ou para controlar o fluxo de informação relacionada à pandemia.
O presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos Estados Unidos, o democrata Bob Menéndez, descartou ontem uma intervenção militar americana em Cuba, abalada por históricos protestos contra o governo. “Não teremos uma intervenção militar em Cuba”, disse a repórteres o veterano senador de origem cubana, atualmente o latino de cargo mais alto no Congresso dos EUA.
Havana acusa Washington de estar por trás dos protestos sem precedentes registrados em todo o país, o que foi rejeitado pelo governo de Joe Biden e chamado de “grave erro”. De acordo com lista publicada ao meio-dia de ontem no Twitter pelo Movimento San Isidro, de oposição ao governo cubano, 130 pessoas continuavam presas ou desaparecidas após os protestos de domingo, incluindo José Daniel Ferrer e Manuel Cuesta Morua, dois dos principais opositores do país. Os números oficiais sobre as prisões não foram divulgados.
Entre os presos está também Camila Acosta, jornalista cubana de 28 anos detida na segunda-feira, segundo Alexis Rodríguez, chefe da seção internacional do jornal madrilenho ABC, com quem trabalhou durante seis meses. O chanceler espanhol pediu ontem às autoridades cubanas que respeitem o direito de manifestação e exigiu a libertação “imediata” de Camila Acosta.