Os intérpretes e seus familiares provavelmente serão levados primeiro a bases militares americanas no exterior antes de serem enviados aos Estados Unidos e outros países.
Muitos deles temem represálias dos talibãs que buscam reconquistar Cabul após a saída das tropas americanas em final de agosto.
Estimativas indicam que cerca de 18.000 pessoas estão aptas a ser evacuadas, o que, junto com os familiares, poderia elevar o total de refugiados para 100.000 pessoas.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, declarou que o objetivo é conseguir que os casos que já estão sendo processados sob tutela do programa de vistos internacionais -uma parte dos 18.000- sejam concluídos antes da data limite para a retirada das tropas do Afeganistão, em 31 de agosto.
"São pessoas valentes. Queremos garantir o reconhecimento do papel que tiveram", afirmou Psaki.
O porta-voz do Pentágono, John Kirby, declarou que está trabalhando intensamente sobre o destino dos intérpretes, mas afirmou que não dará detalhes. "Estamos vendo todas as opções", disse.
- Combatentes em motos -
O anúncio foi feito no momento em que os Estados Unidos avançam na retirada de tropas do Afeganistão e os insurgentes islamitas capturaram Spin Boldak, que é uma passagem fronteiriça entre Kandahar e Quetta, no Paquistão, e seguem em direção a Karachi.
O governo Afegão, porém, nega essa informação.
"Os terroristas talibãs fizeram alguns movimentos perto da área da fronteira. As forças de segurança repeliram o ataque", declarou à AFP o porta-voz do Ministério do Interior, Tareq Arian.
Ao mesmo tempo, as redes sociais foram tomadas por imagens de combatentes talibãs descansando na cidade fronteiriça e residentes disseram à AFP que estavam sob controle dos talibãs.
"Quando fui à loja de manhã vi talibãs por toda parte. Estão no bazar, no quartel da polícia e nos postos de controle. Os barulhos do combate foram ouvidos nas proximidades", afirmou Raz Mohammad, um vendedor que trabalha perto da fronteira.
A passagem de fronteira que os talibãs afirmam terem tomado liga o Afeganistão à província paquistanesa do Baluchistão (sudoeste), cuja capital Quetta, segundo acusações, abriga alguns líderes talibãs, ou recebe seus feridos.
Horas depois da queda do posto de fronteira, um jornalista da AFP no lado paquistanês viu cerca de 150 talibãs em motocicletas, carregando bandeiras rebeldes e exigindo cruzar para o Afeganistão.
- Bush critica retirada -
Spin Boldak é a mais recente passagem de fronteira tomada por rebeldes nas últimas semanas, enquanto buscam sufocar financeiramente Cabul e encher seus próprios cofres.
Em outro sinal de que os governos ocidentais estão analisando rapidamente a situação, o secretário de Defesa britânico, Ben Wallace, disse que o Reino Unido está preparado para trabalhar com o Talibã se fizerem parte de um governo de poder compartilhado.
"Qualquer que seja o governo, desde que cumpra certos padrões internacionais, o governo do Reino Unido conversará", afirmou ao jornal Daily Telegraph.
O Pentágono pressionou na terça-feira os líderes de Cabul para fortalecer sua luta contra o Talibã.
"Eles sabem o que precisam fazer", declarou o porta-voz do Departamento de Justiça americano, John Kirby. "Seja qual for o resultado, bom ou ruim, a maneira como a liderança é expressa, como é demonstrada, será essencial", continuou Kirby a repórteres.
Enquanto o governo Joe Biden perde o controle de Cabul, o ex-presidente George W. Bush, que iniciou a invasão 20 anos atrás após os ataques de 11 de setembro de 2001, protestou contra a retirada das tropas do Afeganistão.
"Temo que as mulheres e meninas afegãs sofram danos indescritíveis. Elas serão deixadas para trás para serem massacradas por essas pessoas muito brutais", lamentou o ex-presidente à emissora alemã Deutsche Welle.
Questionado se a retirada das tropas é um erro, ele respondeu: "Sim. Eu acho que é."
Enquanto isso, cerca de 350 afegãos fugiram do norte do Afeganistão para o Tajiquistão nesta quarta-feira para escapar do ataque do Talibã, de acordo com a agência de notícias Tayeka Khova.
Os refugiados, na maioria meninas, "fugiram do Talibã para salvar suas vidas e duas crianças morreram cruzando a fronteira".
KANDAHAR