Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

Reino Unido enfrenta explosão de casos mesmo com população 51% vacinada

Uma das nações com vacinação contra o coronavírus mais avançada, o Reino Unido se tornou o centro das atenções no mundo depois de registrar 46 mil casos e mais de 500 internações em 24 horas. Desde o início da pandemia, os europeus chegaram a mais de 5,2 milhões de infectados e 129 mil óbitos, num momento em que 51% da população está com a imunização completa e o país já volta gradativamente à vida normal.




 
Recentemente, o planeta acompanhou dois grandes eventos esportivos sediados pela Inglaterra, a decisão da Eurocopa, entre a Itália e o time da casa, e o torneio de tênis de Wimbledon, quando o sérvio Novak Djokovic venceu o italiano Matteo Berrettini. Em ambos, foram registradas cenas de tumulto dentro e fora do ambiente esportivo, além de desrespeito ao uso obrigatório de máscaras. Nas ruas de Londres, torcedores também se aglomeraram em parques, praças e nos vários pubs, protagonizando imagens que servem de exemplo para os demais países.

O governo inglês pede que as pessoas voltem a se cuidar para evitar um novo cenário aterrorizador provocado pela doença. As autoridades já imaginam que haverá um aumento de casos, que pode chegar a 100 mil por dia, à medida que as restrições forem suspensas
Novak Djokovic passou no meio do público após ser campeão em Wimbledon (foto: / AFP / Adrian DENNIS)

Apesar disso, o primeiro-ministro Boris Johnson continua com o plano de concluir na próxima segunda-feira (19/7) o relaxamento do confinamento imposto em janeiro na Inglaterra, por considerar que o sucesso da campanha de vacinação compensa o avanço do vírus.





“Os países europeus estão sofrendo a entrada de novas variantes, entre elas a Delta, indiana. E já se comprovou que a variante tem uma capacidade parcial de escapar à resposta imune gerada pela vacina ou por uma infecção prévia”, afirma o pesquisador Flávio Guimarães da Fonseca, coordenador do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas) e integrante da Rede Vírus, núcleo criado pelo governo federal para o combate à COVID-19.

"Um aspecto que ainda gera muitas dúvidas no Brasil é que, mesmo sendo vacinada, a pessoa ainda corre risco de ser infectada: As vacinas têm um nicho importante, que é impedir o acontecimento de casos graves e óbitos. Mas a maior parte das vacinas não são 100% eficazes e a maior parte das pessoas vai se infectar mesmo sendo imunizadas. Mas não vai desenvolver doença grave. Quando você tem um aumento de exposição numa população vacinada, como aumento de aglomerações ou pessoas sem o protetor facial, é natural haver esse aumento de infecções em razão dessa abertura”.
Torcedores de Itália e Inglaterra assistiram a final da Eurocopa no Estádio de Wembley (foto: AFP / POOL / FACUNDO ARRIZABALAGA )

Cautela

Para o infectologista Adelino de Melo Freire Júnior, do Hospital Felício Roxo, a questão preocupa porque as novas cepas já estão no Brasil: “Não tem como muito prever com qual taxa de vacinação vamos voltar à normalidade ou deixar de usar máscaras. Claro que isso é importante, mas precisamos refletir como a vacinação vai refletir no número de infectados. Esperamos redução da taxa de transmissão, que é o ponto mais crítico da história. A entrada de novas variantes, que são mais transmissíveis, é um dos indícios do aumento de casos. E essa variante chegou no Brasil. Temos o medo de aumentar nosso número de casos”.





“Na Eurocopa, exigiram testagem ou comprovante de vacinação com duas doses, que é uma estratégia razoável. Em qualquer uma dessas flexibilizações, é preciso acompanhar bem os resultados. Se os eventos foram culpados pelo aumento de casos, certamente é um aprendizado para que os próximos não ocorram dessa forma”, acrescenta o médico.

Na Organização Mundial da Saúde (OMS), o diretor de emergências, Mike Ryan, disse que os países devem agir com extrema cautela ao reabrir suas economias após restrições necessárias devido à COVID para "não perder os ganhos que obtiveram". E essa alerta serve para o Brasil, que viveu explosão de casos entre novembro e março, justamente pelo relaxamento das medidas

Para Flávio Guimarães, o Brasil deve saber se portar quando houver aumento de infecção, à medida que a população for imunizada.

“Desde o início da pandemia, nosso país está uma posição atrasada em relação aos países europeus no sentido cronológico. E nem sempre aprendemos com o que ocorreu lá. Caminhamos agora por uma abertura enquanto houver aceleração da vacinação, embora não tão impactante em termos proporcionais quanto no Reino Unido. E é natural que a sociedade planeja flexibilizações graduais à medida que o número de casos vai caindo. Mas devemos aprender com o que está ocorrendo no Reino Unido e entender que há um número maior de casos enquanto a população for vacinada. Mas temos de estar preparados para enfrentar aumentos de casos durante os processos de flexibilizações”, diz. 



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