"O Festival está orgulhoso de propor este filme para mostrar um momento importante da atualidade mundial. Desde 1946, é a tradição e a vocação de Cannes", declarou à AFP o delegado-geral do concurso, Thierry Frémaux. "Não sabíamos nada sobre como foi produzido e quem o dirigiu, mas ficamos animados desde o princípio".
"Revolução do nosso tempo" (tradução livre), cuja equipe é anônima com exceção de seu diretor Kiwi Chow, aborda as manifestações quase diárias em Hong Kong a partir de junho de 2019 para denunciar a interferência de Pequim neste território semiautônomo.
O documentário mostra as considerações políticas e táticas de um movimento sem líder, impulsionado pela iniciativa individual dos manifestantes, e também a repressão brutal dos protestos por parte das forças de segurança.
"Queria explicar o que nos trouxe até aqui (...). Foi muito difícil encontrar as figuras-chave dos principais incidentes violentos", explicou por e-mail à AFP Kiwi Chow.
É um trabalho "livre de qualquer autocensura" e "espero que o público sinta que o documentário é assim", disse o diretor, que trabalhou sem pressão, mas "com angústia e medo".
Atualmente, as manifestações estão praticamente proibidas em Hong Kong, após uma intensa campanha de repressão lançada pelo governo chinês.
"Teremos que viver com a ideia de que este documentário não pode ser exibido publicamente em Hong Kong devido à forte vigilância governamental", afirmou o diretor em um comunicado sobre o filme.
A exibição em Cannes é "uma satisfação para muitos habitantes de Hong Kong que vivem com medo. Mostra que os que lutam pela justiça e pela liberdade estão conosco", acrescentou.
Entre as pessoas entrevistadas no documentário, "não temos notícias de algumas delas, outras se exilaram e outras enfrentam penas de prisão", lamentou.
CANNES