Jornal Estado de Minas

PEQUIM

Saiba como funcionará o novo mercado de carbono na China

A China lançou nesta sexta-feira (16) o maior mercado de carbono do mundo para ajudar a reduzir suas emissões, mas os observadores estão céticos sobre o impacto do novo sistema.



O gigante asiático é o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo e também o maior investidor em novas energias. Pequim prometeu ser neutro em carbono até 2060.

Saiba mais sobre este novo sistema:

- Como funciona? -

O sistema impõe um preço às emissões de carbono.

Permite que as autoridades provinciais estabeleçam cotas para usinas termelétricas pela primeira vez e para que as empresas comprem direitos de poluição de terceiras com menor pegada de carbono.

Em sua primeira fase, porém, o sistema cobrirá apenas o setor elétrico: envolve 2.225 produtores em todo o país, responsáveis por 30% das emissões totais da China.

Fábricas de cimento e alguns produtores de alumínio poderão ser adicionados à lista no próximo ano.

Na prática, as autoridades vão emitir um certificado para cada tonelada de dióxido de carbono (ou outros gases de efeito estufa) que uma empresa estará autorizada a emitir.



Se não cumprir o limite estabelecido, terá que pagar multas.

"As empresas podem reduzir suas emissões ou pagar para poluir. Mas isso ficará mais caro com o tempo, pois os governos concederão menos licenças de poluição", disse Zhang Jianyu, vice-presidente para a China do grupo ambientalista americano Environmental Defense Fund.

Por uma questão de transparência, as empresas terão que tornar públicos seus dados de poluição e fazer com que sejam verificados por terceiros.

Verificações surpresa do Ministério do Meio Ambiente no mês passado já revelaram que uma em cada três empresas emitiu mais CO2 do que declarou.

Para alguns analistas, as multas por não conformidade não são suficientemente dissuasivas.

- Reduzirá as emissões? -

Não tão rápido e nem tanto quanto o esperado.

O plano original era cobrir 70-80% das emissões da China, bem como os principais poluentes de sete outros setores, incluindo aviação, aço e petroquímica. Mas este não é o caso no momento.



Além disso, as licenças de poluição são distribuídas gratuitamente em vez de serem leiloadas. O resultado é que há menos incentivos para as empresas reduzirem suas emissões rapidamente.

Também espera-se que o preço do carbono seja muito baixo no sistema chinês (cerca de US $ 6 por tonelada), em comparação com US $ 36 para a UE e US $ 17 para a Califórnia no ano passado.

"Não é suficiente para desencorajar as empresas a se tornarem mais verdes", disse Li Shuo, do Greenpeace China.

Segundo os economistas Nicholas Stern e Joseph Stiglitz, o preço da tonelada de carbono deverá ficar entre 50 e 100 dólares no mundo em 2030 para limitar o aumento da temperatura a + 2ºC.

- Como é fixado os limites de poluição? -

O Ministério do Meio Ambiente incentiva as empresas a reduzirem sua intensidade de carbono - a quantidade de poluição produzida por unidade do PIB - mas não suas emissões totais de gases de efeito estufa.



Essa é uma "diferença sutil, mas importante", segundo Lauri Myllyvirta, do Centro de Pesquisas em Energia e Ar Limpo (CREA), que acredita que a medida pode ter o efeito perverso de tornar as novas usinas a carvão mais atrativas economicamente.

Os especialistas também esperam que o poderoso lobby do carvão pressione por cotas confortáveis e, portanto, por um preço de carbono favorável.

A China depende do carvão para 60% de suas necessidades de energia e, desde 2011, queimou mais carvão a cada ano do que o resto do mundo combinado, de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) em Washington.

- E depois?-

Uma nova lei sobre mudanças climáticas está em andamento e poderá resolver algumas das deficiências do sistema atual, de acordo com ambientalistas, que esperam que o mercado de carbono abranja mais indústrias no futuro, com penalidades mais duras.

O presidente Xi Jinping foi elogiado no final de 2020, quando anunciou que seu país iria começar a reduzir suas emissões poluentes até 2030 e atingir a neutralidade de carbono (absorver tanto quanto emite) até 2060.

Mas em sua forma atual, "o mercado de carbono não vai desempenhar um papel importante para atingir essas metas", avisa Myllyvirta, conclamando Pequim a "dar mais força" ao seu sistema.

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