A média diária de mortes na última semana foi de 1.244, em comparação com as mais de 3.000 vidas perdidas por dia durante a primeira quinzena de abril, durante o ápice da segunda onda.
E o número médio de infecções acabou caindo para 41.087 nesta sexta-feira (16), após ter ultrapassado 77.000 no final de junho.
"Nós não estamos ainda numa situação confortável. Temos ainda um numero altíssimo de casos novos e ainda um número alto de óbitos, mas naquelas faixas etárias que estão completamente vacinadas, já vemos uma melhora significativa nos indicadores de internação e óbito, disse à AFP a epidemiologista Ethel Maciel, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
A imunização, que começou em janeiro nos grupos prioritários (profissionais de saúde, idosos, indígenas), foi afetada pela escassez de doses e insumos importados. Mas no último mês o país conseguiu estabilizar a entrega e distribuição das vacinas e aplicou, em média, mais de um milhão de doses diárias, segundo dados oficiais.
Isso resultou em uma cobertura de 40% da população com uma dose e cerca de 15% com a imunização completa, e essas porcentagens devem aumentar consideravelmente nos próximos meses.
Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, as mais populosas do país, avançaram na vacinação de grupos-chave, como profissionais de saúde e de educação, e estão convocando adultos de 30 a 40 anos para a primeira dose. O Rio promete imunizar toda a sua população com mais de 12 anos até o final de novembro.
A vacinação "avançou a uma velocidade mais lenta do que o desejado, mas começa a dar efeitos nítidos. Também foi importante para que a suposta terceira onda não se concretizasse", disse Mauro Sanchez, epidemiologista da Universidade de Brasília (UnB).
O Brasil, com 212 milhões de habitantes, já registra quase 540 mil óbitos por covid, dos quais mais de 340 mil foram registrados até agora em 2021.
- Incerteza por variante Delta -
Em seu último boletim epidemiológico, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) confirma a melhora nos índices de infecções e óbitos, com tendência de queda há pelo menos três semanas.
Além disso, pela primeira vez desde dezembro, nenhum dos 27 estados brasileiros apresenta ocupação superior a 90% de seus leitos de terapia intensiva para pacientes com covid.
Mas a circulação do vírus não está sob controle e especialistas alertam para o risco do surgimento de novas variantes ou de que a variante Delta, considerada mais contagiosa, se torne predominante.
O Ministério da Saúde identificou até agora 27 casos dessa variante (inicialmente detectada na Índia) e as autoridades locais realizam um rastreamento intensivo dos contatos para evitar que ela se espalhe.
Alguns estados encurtaram o intervalo entre a primeira e a segunda dose de algumas vacinas, na tentativa de antecipar a imunização completa.
"O único cenário que poderia mudar isso é um cenário de novas variantes, ou a Delta mudando a transmissão no Brasil", disse Maciel.
- Enfim, o Carnaval? -
Apesar da posição do presidente Jair Bolsonaro, que circula sem máscara e questiona a segurança das vacinas (que ele mesmo se negou a aplicar), uma pesquisa da DataFolha revelou nesta semana que 94% dos brasileiros já vacinaram ou pretendem se vacinar, uma adesão recorde desde o início da pandemia.
O consenso entre os especialistas é que o Brasil deve manter ou aumentar a taxa de vacinação para retomar totalmente as atividades (inclusive aulas presenciais com 100% dos alunos) e começar a pensar em permitir eventos massivos, como as festas de final de ano no Rio de Janeiro e Carnaval em fevereiro de 2022.
"A volta à normalidade ainda não está no nosso horizonte próximo. Teremos que ver coberturas vacinais altas, de aproximadamente 80% em toda a população, associadas a um nível muito baixo de circulação do vírus na comunidade para que se comece a permitir as aglomerações e festas às quais estamos acostumados", diz Sanchez.
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