Uma empresa israelense acusada de fornecer um software espião a governos foi vinculada ao vazamento de uma lista de 50 mil números de telefone de ativistas, jornalistas, executivos de empresas e políticos de todo o mundo, segundo relatórios divulgados neste domingo.
O NSO Group de Israel e seu malware Pegasus ocupam manchetes desde 2016, quando investigadores o acusaram de ajudar a espionar um dissidente nos Emirados Árabes.
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Software espião de empresa israelense foi usado contra jornalistas, políticos e ativistas, aponta imprensaCarlos Bolsonaro intervém na compra de equipamento de espionagemO Washington Post indicou que a lista foi compartilhada com a imprensa pela organização jornalística sem fins lucrativos Forbidden Stories, baseada em Paris, e pela Anistia Internacional. Segundo o jornal, o número total de celulares atacados ou vigiados é desconhecido.
A lista inclui números de telefone de jornalistas de veículos de todo o mundo, como AFP, "The Wall Street Journal", CNN, "The New York Times", Al-Jazeera, France 24, Radio Free Europe, Mediapart, "El País", Associated Press, "Le Monde", Bloomberg, "The Economist", Reuters e Voice of America, informou o The Guardian.
O uso do software para hackear telefones dos repórteres da Al-Jazeera e de um jornalista marroquino havia sido relatado anteriormente pelo Citizen Lab, centro de pesquisas da Universidade de Toronto, e pela Anistia Internacional.
Também estão listados dois números pertencentes a mulheres próximas do jornalista saudita Jamal Khashoggi, morto por um esquadrão saudita em 2018. Também inclui o número de um jornalista independente mexicano que foi assassinado posteriormente em um lava-jato. Seu telefone nunca foi encontrado e não está claro se ele foi hackeado.
Espião de bolso
Segundo o Washington Post, os números da lista não aparecem com identificação, mas os veículos de comunicação que participam do projeto conseguiram identificar mais de mil pessoas de mais de 50 países, entre elas membros de famílias reais árabes, 65 executivos de empresas, 85 ativistas de direitos humanos, 189 jornalistas e mais de 600 políticos e funcionários públicos, incluindo chefes de Estado e de governo e ministros.
Os relatórios apontam que muitos números da lista estão concentrados em 10 países: Azerbaijão, Barein, Hungria, Índia, Cazaquistão, México, Marrocos, Ruanda, Arábia Saudita e Emirados Árabes.
O Pegasus é uma ferramenta extremamente invasiva, que pode ligar a câmera e o microfone do celular, bem como acessar dados do dispositivo, convertendo-o em um espião de bolso. Em alguns casos, ele pode ser instalado sem a necessidade de enganar o usuário para que ele realize um download.
Em comunicado divulgado hoje, o NSO afirma que o relatório da Forbidden Stories está "repleto de suposições errôneas e teorias infundadas" e ameaça entrar com um processo de difamação contra a organização. "Como o NSO declarou anteriormente, nossa tecnologia não está, de forma alguma, relacionada ao assassinato hediondo de Jamal Khashoggi", assinalou a empresa.
"Gostaríamos de enfatizar que o NSO vende suas tecnologias apenas para agências policiais e de inteligência de determinados governos, com o único propósito de salvar vidas, mediante a prevenção de crimes e atos terroristas", observou o grupo.
O Citizen Lab informou em dezembro que dispositivos móveis de mais de três dezenas de jornalistas da rede Al-Jazeera, do Catar, haviam sido atacados pelo Pegasus. A Anistia Internacional comunicou em junho do ano passado que autoridades marroquinas usaram o malware do NSO para inserir um software espião no celular de Omar Radi, jornalista condenado por uma postagem nas redes sociais. Naquela época, o NSO disse à AFP que estava "profundamente preocupado com as acusações" e que analisava a informação.
Fundado em 2010 pelos israelenses Shalev Hulio e Omri Lavie, o NSO está sediado no centro de alta tecnologia israelense de Herzliya, perto de Tel Aviv, e emprega centenas de pessoas em Israel e ao redor do mundo.