"Como determinou o presidente Joe Biden, aplicaremos sanções de grande impacto a autoridades cubanas que orquestraram estas violações aos direitos humanos", disse a chefe da diplomacia americana para a América Latina, Julie Chung, em um tuíte que assinou com suas iniciais.
Chung, secretária adjunta para as Américas do Departamento de Estado, publicou também uma foto ao lado da opositora cubana Rosa María Payá, filha do falecido ativista Oswaldo Payá, com quem disse ter se reunido para conversar "sobre este momento inédito para o povo cubano e a urgência em tomar ação e exigir prestação de contas".
"Estão matando nossos irmãos e irmãs na ilha", denunciou Payá na terça-feira, durante uma audiência no Congresso americano.
Milhares de pessoas foram às ruas em cidades e municípios de toda Cuba em 11 de julho aos gritos de "Temos fome!", "Liberdade" e "Abaixo a ditadura!", em meio à pior crise econômica na ilha em décadas e de um forte aumento dos contágios e óbitos pela covid-19.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão da Organização de Estados Americanos (OEA), descreveu as manifestações como "pacíficas" e condenou "a repressão estatal e o uso da força" durante as mesmas.
Em um comunicado publicado na semana passada, a CIDH reportou ao menos um morto e 151 detidos ou com paradeiro desconhecido como consequência de sua participação nas marchas. Também descreveu várias agressões por parte da polícia a jornalistas e correspondentes.
"Vamos nos concentrar em aplicar sanções fortes ao regime oficial responsável pela repressão brutal", garantiu Chung nesta quarta em uma série de tuítes.
"Os funcionários cubanos responsáveis pela violência, a repressão e a violação dos direitos humanos contra os manifestantes pacíficos em Cuba devem prestar contas", acrescentou.
- "Sanções seletivas" -
O presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado americano, o democrata Bob Menéndez, e colegas europeus pediram nesta quarta "sanções seletivas" contra todo membro das forças de ordem de Cuba "cúmplice de perpetuar a repressão" na ilha.
"Condenamos firmemente as autoridades cubanas por usar a violência, a intimidação e a censura para negar aos cubanos seu direito constitucional de se reunir e protestar pacificamente", destacou a declaração assinada por Menéndez e representantes de Reino Unido, República Tcheca, Estônia, Letônia e Lituânia.
O Tesouro estuda a aplicação de sanções contra os funcionários "responsáveis pela violência (...) contra manifestantes pacíficos em Cuba", havia dito na terça-feira a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki.
Durante o governo de Donald Trump, os Estados Unidos puniram vários funcionários de alto nível do governo cubano, bloqueando-lhes o acesso ao sistema financeiro ou impedindo-os de visitar o país assim como seus familiares.
Em janeiro, cinco dias antes da posse de Biden, o Tesouro americano sancionou o ministro do Interior cubano, Lázaro Alberto Álvarez Casas. Em 2020, havia incluído em sua lista negra de controle de ativos estrangeiros Luis Alberto Rodríguez López-Calleja, chefe do GAESA, conglomerado empresarial militar mais poderoso da ilha e ex-genro do ex-presidente Raúl Castro.
Em 2019 e 2020, o Departamento de Estado vetou a entrada nos Estados Unidos de Raúl Castro, irmão de Fidel e ex-primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba (PCC). Também havia proibido a entrada do atual ministro das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba, Leopoldo Cintra Frías, e do então ministro do Interior, o já falecido Julio César Gandarilla.
- "Pressões brutais" -
"Os Estados Unidos intensificarão o compromisso com os parceiros regionais e internacionais para apoiar as aspirações do povo cubano", tuitou, ainda, Chung, pedindo para condenar "coletivamente a violência e a repressão ao povo cubano por reivindicar sua liberdade".
Em Havana, o governo de Miguel Díaz-Canel, que atribui os protestos a uma campanha orquestrada nos Estados Unidos, acusou o governo Biden de pressionar países-membros da OEA a assinar uma declaração conjunta condenando "as prisões e detenções maciças dos manifestantes" na ilha.
"Denuncio que o Departamento de Estado dos Estados Unidos exerce pressões brutais sobre governos de um grupos de Estados da OEA", forçando-os a se juntarem a esta declaração ou emitir uma similar", declarou em um tuíte o chanceler cubano, Bruno Rodríguez.
O ministro "convocou" o secretário de Estado americano, Antony Blinken, a reconhecer ou negar a autenticidade da carta.
Cuba foi suspensa da OEA em 1962, em plena Guerra Fria, mas essa sanção foi suspensa em 2009. No entanto, Havana não solicitou sua reincorporação ao órgão regional, para o qual teria que assinar a Carta Democrática Interamericana.
Atualmente, a OEA considera Cuba um membro não ativo da organização.
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