A indústria dos cursos preparatórios e de reforço para provas é um setor muito lucrativo na China, onde o sistema educacional é especialmente competitivo e elitista.
Em 2018, essa indústria representou cerca de US$ 260 bilhões, de acordo com a empresa L.E.K. Consulting.
Obcecados com o sucesso dos filhos, os pais chineses costumam gastar quantias significativas em atividades de reforço escolar, o que levou ao nascimento de verdadeiros gigantes no setor educacional. Algumas dessas empresas estão, inclusive, listadas nos Estados Unidos.
Na China, porém, a carga de trabalho excessiva dos alunos e os custos proibitivos da educação são cada vez mais criticados.
De acordo com as novas diretrizes publicadas pelo governo no sábado (24), as empresas de apoio escolar terão de se registrar como associações sem fins lucrativos a partir de agora.
Além disso, não poderão mais lecionar nos finais de semana, nos feriados, nem durante as férias escolares.
- Descalabro na Bolsa -
A medida fez as ações dos líderes chineses do ensino privado despencarem na Bolsa de Valores nesta segunda-feira.
A New Oriental Education, um dos principais atores do mercado, perdeu 47% na Bolsa de Hong Kong durante a sessão.
A Koolearn Technology, especializada em cursos on-line, registrou uma desvalorização de mais de 33%, e a China Maple Leaf Educational, que se dedica ao acesso a universidades estrangeiras, perdeu em torno de 11%.
Esses resultados pesaram na Bolsa de Hong Kong, que fechou com queda de mais de 4% nesta segunda.
Buscando aliviar a sobrecarga de trabalho dos estudantes chineses e a pressão financeira sobre seus pais, as medidas coincidem com um contexto de desaceleração da economia, que tem levado Pequim a querer aumentar a natalidade.
O gasto com filhos é um dos principais motivos que desencorajam os jovens casais chineses a terem filhos.
O endurecimento das regras no setor de educação recorda o realizado no campo da tecnologia, onde uma legislação relativamente frouxa sobre a coleta de dados e a ausência de concorrentes estrangeiros permitiram a formação de gigantes locais.
Nos últimos meses, o governo chinês tem sido mais firme e instaurado diversos processos contra pesos pesados do setor, pedindo-lhes que "retifiquem" práticas até então toleradas.
Alibaba, o gigante chinês do comércio on-line, fundado pelo bilionário Jack Ma, foi condenado em abril a pagar uma multa de US$ 2,7 bilhões por dificultar a concorrência.
Didi, líder de mercado na reserva de veículos com motorista (VTC) na China, está sendo investigada por seu sistema privado de coleta de dados.
Os contratempos vieram depois que Didi levantou US$ 4,4 bilhões durante sua oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) em Nova York no final de junho. O governo chinês não gostou dessa movimentação.
A gigante da Internet Tencent foi a última empresa a ficar na mira de Pequim.
Líder indiscutível na China no mercado de streaming, o grupo foi atacado no sábado pelo órgão regulador, que o acusou de práticas anticompetitivas e pediu que abrisse mão de seus direitos musicais exclusivos.
Na segunda-feira, as ações da Tencent perderam 7,7% na Bolsa de Valores de Hong Kong.
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