"O acesso às vacinas se tornou a principal linha de ruptura que divide a recuperação mundial em dois blocos", disse o FMI na atualização trimestral de suas Perspectivas da economia mundial (WEO na sigla em inglês).
Ainda assim, apontou a ameaça que representa para todo o mundo o aparecimento de novas variantes do coronavírus. A recuperação "não está garantida inclusive em países onde as infecções são atualmente muito baixas enquanto o vírus circular em outros lugares", indicou o WEO.
O Produto Interno Bruto (PIB) mundial aumentará 6% este ano, sem mudanças com relação ao prognóstico de abril.
Mas a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, destacou a "brecha cada vez maior" existente à medida que as economias avançadas crescerem mais rápido e as nações em desenvolvimento, especialmente na Ásia, desacelerarem.
Os Estados Unidos, a primeira economia mundial, devem experimentar um crescimento muito mais rápido este ano do que o previsto anteriormente, com um aumento de 7% graças a um gasto governamental maciço e uma vacinação anticovid generalizada, mas o FMI cortou o prognóstico da Índia, que enfrenta o ressurgimento das infecções.
O Fundo, com sede em Washington, enfatizou mais uma vez que "a prioridade imediata é distribuir vacinas de forma equitativa em todo o mundo" e promoveu um plano de 50 bilhões de dólares que oferece um "custo factível para pôr fim à pandemia".
As nações avançadas vacinaram quase 40% da população, em comparação com apenas 11% nos mercados emergentes e uma pequena parte nos países de baixa renda, segundo o relatório.
Gopinath disse que "pelo menos um bilhão de doses de vacinas deveriam ser distribuídas em 2021 pelos países com excedentes de vacinas".
A falta de uma vacinação generalizada poderia permitir o surgimento de variantes do vírus altamente infecciosas, como a Delta, identificada pela primeira vez na Índia e que se tornou prevalente.
Isso poderia custar à economia mundial 4,5 trilhões de dólares até 2025, estimou o FMI.
- Maior preocupação agora -
Embora em alguns países emergentes, como o Brasil e o México, esteja previsto um crescimento mais forte este ano, os países em desenvolvimento em seu conjunto lutam para voltar a seus níveis pré-pandemia.
"Diria que estamos mais preocupados do que em abril", disse à AFP Petya Koeva-Brooks, vice-diretora do Departamento de Estudos do FMI.
As vacinas permitiram a reabertura econômica e melhoraram o panorama nos Estados Unidos para este ano e o próximo, quando se espera que o crescimento alcance 4,9%.
No entanto, isso supõe que o Congresso dos Estados Unidos aprove outra rodada de gastos ao final deste ano de 4 trilhões de dólares nos programas de infraestrutura e criação de empregos do presidente Joe Biden.
O FMI também aumentou as estimativas de 2021 para o Canadá e o Reino Unido a 6,3% e 7%, respectivamente, enquanto espera-se que o PIB da zona do euro avance 4,6%, um pouco acima do projetado pelo WEO de abril.
O prognóstico de crescimento da Índia diminuiu em três pontos até 9,5%, e inclusive o da China encolheu em três décimos de ponto percentual para 8,1%.
Na América Latina e no Caribe espera-se que o México registre um crescimento maior, ajudado pelos efeitos colaterais positivos da recuperação da economia americana, enquanto o Brasil também recebeu um impulso com o aumento dos preços das matérias-primas, que se dissipará no ano que vem, segundo o informe.
- Temporário ou persistente? -
O aumento dos preços é outro fator que pesa na recuperação mundial e representa um desafio para os encarregados da formulação de políticas.
E embora a crescente alta da inflação seja resultado do câmbio desigual e sem precedentes da pandemia e deveria terminar sendo temporário, o FMI apresentou a possibilidade de que os aumentos dos preços se tornem "persistentes".
"A convulsão sem precedentes na economia mundial no ano passado continua provocando réplicas", disse o FMI, destacando a escassez de chips de computador e a falta de contêineres para envios, o que tem atrasado as entregas de materiais.
Koeva-Brooks disse que alguns gargalos e aumentos de preços eram esperados e devem ser passageiros, mas admitiu que a situação é difícil de mensurar.
"Alguns mercados emergentes como Brasil, Hungria, México, Rússia e Turquia começaram a elevar suas taxas de juros para contrabalançar a pressão de alta dos preços", disse Gopinath.
O FMI disse que a inflação deve voltar aos níveis da pré-pandemia em 2022 e instou aos bancos centrais a não reagirem às pressões temporárias de preços, mas estar preparados para tomar "medidas preventivas".
WASHINGTON