Publicada na quinta-feira (12) na prestigiosa revista Science, a descoberta pode ajudar a esclarecer hipóteses sobre a extinção do animal, cujos dentes eram maiores que um punho humano.
"Em toda cultura popular, por exemplo no desenho animado 'A Era do Gelo', há mamutes que se deslocam muito", disse Clement Bataille, professor assistente da Universidade de Ottawa e um dos principais autores do estudo.
Mas não estava claro por que os mamutes viajavam distâncias tão longas, "já que um animal tão grande usa muita energia para se mover", declarou à AFP.
Os pesquisadores ficaram surpresos com os resultados: os mamutes estudados provavelmente caminharam cerca de 70 mil quilômetros e não permaneceram apenas nas planícies do Alasca, como esperado.
"Vemos que viajaram por todo Alasca, um território imenso", precisou Bataille. "Foi realmente uma surpresa".
- Leitura de presa -
Para realizar o estudo, os pesquisadores selecionaram as presas de um mamute-lanoso macho que viveu no final da última era do gelo.
O animal, chamado Kik em homenagem a um rio local, viveu perto da época em que a espécie foi extinta, cerca de 13 mil anos atrás.
Uma de suas presas foi cortada para uma leitura do que é conhecido como "relatório isotópico de estrôncio".
O estrôncio é um elemento químico semelhante ao calcário e está presente no solo. É transmitido para a vegetação e, quando comido, deposita-se nos ossos, nos dentes... ou nas presas. Enquanto os isótopos são diferentes formas deste elemento.
As presas crescem ao longo da vida do animal, e sua ponta representa os primeiros anos, enquanto a base mostra os últimos.
Como os isótopos são diferentes com base na geologia, Bataille desenvolveu um mapa isotópico da região. E, comparando com os dados da presa, foi possível rastrear onde o mamute esteve e em que momento.
- Viagem longa -
Naquela época, as geleiras cobriam toda extensão das montanhas Brooks, no norte, e do Alasca, no sul. No centro, estavam as planícies do rio Yukon.
O animal retornava regularmente às mesmas áreas, onde podia permanecer por vários anos. Mas seus movimentos também mudaram fortemente com base em sua idade, antes de morrer de fome.
Os pesquisadores encontraram sinais de amamentação durante os primeiros dois anos de vida.
"O que foi realmente surpreendente foi que, depois da adolescência, as variações isotópicas começaram a se tornar muito mais importantes", disse Bataille.
O mamute realizou "durante sua vida três ou quatro jornadas imensas de 500, 600 e até 700 quilômetros em poucos meses".
Para explicar isso, os cientistas afirmam que o macho pode ter sido um solitário que se movia de manada em manada para se reproduzir. Ou pode ter enfrentado secas ou invernos rigorosos que forçaram-no a buscar novas áreas para se alimentar.
Seja pela diversidade genética, seja pela falta de recursos, está "claro que essa espécie precisava de uma área muito grande" para viver, apontou Bataille.
Mas, na época da transição entre a Idade do Gelo e um período interglacial, quando se extinguiram, "a área foi reduzida porque mais florestas cresceram", e "os humanos exerceram forte pressão no sul do Alasca, de onde os mamutes provavelmente partiram".
Compreender os fatores que levaram à sua extinção pode ajudar a proteger outras espécies da megafauna atualmente ameaçadas, como o caribu e os elefantes.
Com as mudanças climáticas e os humanos restringindo grandes espécies em parques e reservas, "queremos que nossos filhos vejam os elefantes em 1.000 anos da maneira que vemos os mamutes hoje?", questiona Bataille.
WASHINGTON