"Eles estão desfilando com seus veículos e motocicletas, disparando para o alto para comemorar", informou à AFP Atiqullah Ghayor, residente da cidade.
Mazar-i-Sharif é a quarta maior cidade do Afeganistão e onde vivem cerca de 500 mil pessoas. "Os combatentes tomaram Mazar-i-Sharif e todos os edifícios oficiais estão sob seu controle", garantiram os talibãs em comunicado.
O marechal Abdul Rashid Dostom, ex-vice-presidente afegão, e Atta Mohammad Nur, ex-governador da região de Balj, cuja capital é Mazar-i-Sharif, que haviam tomado o comando da resistência local diante do avanço talibã, fugiram para o vizinho Uzbequistão, segundo pessoas próximas.
Horas antes, o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, garantiu que o combate contra o Talibã continuava.
"A remobilização de nossas forças de segurança e defesa é nossa prioridade número um e medidas sérias estão sendo tomadas para esse fim", disse Ghani, em um discurso à Nação.
Não fez alusão, porém, a uma possível renúncia, exigida por alguns, mas especificou que tinha iniciado "consultas" dentro do governo, com dirigentes políticos e parceiros internacionais, para encontrar "uma solução política em que a paz e a estabilidade" sejam preservadas.
Horas depois, o governo declarou que irá formar uma delegação que "estará pronta para negociar".
Paralelamente, o governo do Catar, emirado que tem sido sede de negociações infrutíferas entre talibãs e autoridades afegãs há meses, pediu aos insurgentes "um cessar-fogo, o que contribuiria para acelerar os esforços para alcançar um acordo político integral que garanta um futuro próspero ao governo e ao povo afegão".
- A 50 km de Cabul -
A situação militar é crítica para o governo. Em pouco mais de uma semana, o Talibã assumiu o controle de quase todo o norte, oeste e sul do Afeganistão e chegou na periferia de Cabul.
Os insurgentes estão a apenas 50 km da capital e não dão sinais de que vão diminuir o passo. Neste sábado, também tomaram a província de Kunar, no leste do país, e logo poderão se aproximar da capital pelo norte, sul e leste.
Além de Cabul, Jalalabad (leste), Gardez e Khost (sudeste) são as únicas outras cidades importantes ainda controladas pelo governo.
Para os moradores de Cabul e as dezenas de milhares de pessoas que fugiram de suas casas nas últimas semanas para se refugiar na capital, o medo prevalece.
"Choro dia e noite quando vejo o Talibã forçando garotas a se casar com seus combatentes", disse à AFP Muzhda, de 35 anos, uma mulher solteira que chegou à capital com suas duas irmãs depois de deixar a província de Parwan, ao norte.
"Já recusei propostas de casamento no passado (...) Se o Talibã vier e me forçar a casar com eles, vou me matar", avisa.
- Crescer a barba por precaução -
As ruas da capital se mostraram movimentadas neste sábado, mas longas filas se formam do lado de fora dos bancos, e alguns homens disseram à AFP que começaram a deixar a barba crescer, em antecipação à chegada iminente do Talibã na cidade.
Muitos afegãos - mulheres em particular -, acostumados com a liberdade de que desfrutaram nos últimos 20 anos, temem um retorno ao poder do Talibã.
Quando governou o país entre 1996 e 2001, antes de ser expulso do poder por uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, o Talibã impôs sua versão ultraconservadora da lei islâmica.
As mulheres eram proibidas de sair sem um acompanhante masculino e de trabalhar, e as meninas de ir à escola. Mulheres acusadas de crimes como adultério eram açoitadas e apedrejadas até a morte.
"É particularmente horrível e doloroso ver os direitos duramente conquistados de meninas e mulheres afegãs sendo retirados delas", disse o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, na sexta-feira.
Nas últimas horas, um balé de helicópteros voava no céu de Cabul, entre o aeroporto e a embaixada dos Estados Unidos, um gigantesco complexo localizado na "zona verde", no centro da capital.
Um primeiro contingente de fuzileiros navais dos EUA chegou à capital, onde seu papel será garantir a evacuação de pessoal diplomático, bem como de afegãos que trabalharam para os Estados Unidos e que temem retaliação do Talibã.
Os Estados Unidos pretendem retirar "milhares de pessoas por dia" e para isso o Pentágono implantará antes do fim de semana 3.000 soldados no aeroporto da capital, informou na sexta seu porta-voz, John Kirby.
- Evacuações -
Londres anunciou a redistribuição de 600 soldados para ajudar os britânicos a partir.
Vários países - Holanda, Finlândia, Suécia, Itália e Espanha - também anunciaram na sexta-feira a redução ao mínimo de sua presença no país, bem como programas de repatriação para seus funcionários afegãos.
Outros, incluindo Noruega e Dinamarca, preferiram fechar temporariamente suas embaixadas.
Neste sábado, o governo alemão informou que o exército ajudará a evacuar a embaixada da Alemanha em Cabul e seus funcionários "que precisam de proteção da Alemanha". A sede diplomática será reduzida ao mínimo necessário, segundo essas fontes.
O Talibã lançou sua ofensiva em maio, quando o presidente americano, Joe Biden, confirmou a saída das últimas tropas estrangeiras do país, o que deve ser concluído até 31 de agosto.
Biden disse que não se arrepende de sua decisão, embora a velocidade com que o exército afegão se desintegrou tenha surpreendido e desapontado os americanos, que gastaram mais de US$ 1 bilhão para treiná-lo e equipá-lo.
Mesmo assim, os Estados Unidos garantiram na sexta-feira que Cabul não enfrenta uma "ameaça iminente" e que a tomada do poder pelo Talibã não era, aos seus olhos, um resultado inevitável.
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