Jornal Estado de Minas

CABUL

Pânico em Cabul após Talibã tomar o poder no Afeganistão

Milhares de pessoas desesperadas seguiram nesta segunda-feira (16) para o aeroporto de Cabul para tentarem sair do Afeganistão, poucas horas depois de a capital do país ser controlada pelos talibãs, o que provocou o colapso do governo e a fuga do presidente Ashraf Ghani.



A situação no aeroporto, cujas pistas foram invadidas, piorou tanto que todos os voos - civis e militares - foram suspensos nesta segunda-feira à tarde, anunciou o Pentágono.

A vitória relâmpago dos insurgentes, que celebraram no domingo à noite ocupando o palácio presidencial de Cabul, desencadeou cenas de pânico e o caos no aeroporto da capital.

Milhares de pessoas correram para o aeroporto de Cabul, único ponto de saída do país, para tentarem fugir do novo regime que o movimento islamita radical, que retorna ao poder após 20 anos de guerra, promete estabelecer para os afegãos.

Vídeos divulgados nas redes sociais mostram centenas de pessoas correndo perto de um avião militar americano prestes a decolar, enquanto alguns afegãos tentam agarrar a lateral ou as rodas das aeronave.

Outros vídeos mostram milhares de pessoas aguardando na pista do aeroporto. Grupos de jovens se agarravam às escadas para tentar embarcar em um avião.

Depois de atirarem para o alto no domingo, as forças amercianas abriram fogo nesta segunda-feira e mataram dois homens "que brandiam suas armas ameaçadoramente", declarou um responsável do Pentágono em Washington.



A multidão, desesperada, não acredita nas promessas dos talibãs de que ninguém deve temer o movimento. Todos afirmam ter "muito medo".

"Temos medo de viver nesta cidade e estamos tentando fugir de Cabul (...) Como servi no exército, perdi meu trabalho e é perigoso viver aqui porque os talibãs vão me atacar, isso é certo", declarou à AFP Ahmad Sekib, de 25 anos, que se apresenta com um pseudônimo.

Companhias internacionais suspenderam o sobrevoo do país, a pedido do Afeganistão e devido ao tráfego militar americano.

As ruas de Cabul eram patrulhadas por talibãs armados, em particular a "zona verde", antes uma área ultrafortificada, que abriga as embaixadas e as organizações internacionais.

Nas contas do Twitter favoráveis aos insurgentes, as mensagens afirmam que os talibãs foram recebidos de maneira calorosa em Cabul. Também indicaram que milhares de combatentes estão chegando à capital para garantir a segurança.

- "Servir a nossa nação" -

Depois de fugir do país, Ghani admitiu no domingo a vitória dos talibãs.



Em um vídeo divulgado nas redes sociais, o cofundador dos talibãs Abdul Ghani Baradar anunciou a vitória do movimento. "Agora temos que mostrar que podemos servir a nossa nação e garantir a segurança e o bem-estar", disse.

O colapso é total para as forças de segurança afegãs, financiadas durante 20 anos com bilhões de dólares do governo dos Estados Unidos.

O movimento islamita radical iniciou uma ofensiva em maio, após o início da retirada das tropas estrangeiras, em particular americanas.

Em 10 dias, os talibãs tomaram o controle do país, 20 anos depois de terem sido expulsos por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos devido a sua recusa para entregar o líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, após os atentados de 11 de setembro de 2001.

A China foi o primeiro país a afirmar que deseja manter "relações amistosas" com os talibãs. A Rússia afirmou que a decisão de reconhecer o novo governo dependerá de "suas ações" e informou que seu embaixador se reunirá na terça-feira com os insurgentes.



O Ministério russo das Relações Extriores considerou que "a situação em Cabul e no Afeganistão está se estabilizando" e que "os talibãs estão restaurando a ordem pública".

Já o ministro britânico da Defesa, Ben Wallace, considerou que "não é o momento" de reconhecer o regime talibã. Também classificou o retorno dos insurgentes ao poder de "fracasso da comunidade internacional".

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, insistiu que "a comunidade internacional deve se unir para assegurar que o Afeganstão nunca mais seja usado como plataforma ou refúgio de organizações terroristas".

O governo dos Estados Unidos enviou 6.000 soldados ao aeroporto para retirar os funcionários da embaixada e afegãos que atuaram como intérpretes ou em outras funções.

Muitos diplomatas e estrangeiros foram retirados às pressas de Cabul no domingo.

Os cidadãos afegãos e estrangeiros que desejam fugir do Afeganistão "devem ser autorizados a sair", afirmaram Estados Unidos e outros 65 países em um comunicado conjunto, com a advertência de que os talibãs devem demonstrar "responsabilidade".



- Pílula amarga para Washington -

O presidente Joe Biden estava decidido a retirar as tropas de seu país até o fim de agosto e insistiu que não passaria esta guerra - a mais longa da história dos Estados Unidos - a outro presidente.

"Isto não é Saigon", afirmou no domingo o secretário de Estado americano, Antony Blinken, ao recordar a queda da capital vietnamita, em 1975, um momento doloroso para os Estados Unidos.

Mas a pílula é amarga para Washington, que não conseguiu construir um governo democrático capaz de resistir aos talibãs, apesar do investimento de bilhões de dólares e do apoio militar durante duas décadas.

A Casa Branca anunciou que Joe Biden vai fazer um discurso à nação sobre o Afeganistão nesta segunda-feira à noite (às 16h45 no horário de Brasília).

Além disso, um funcionário de seu governo alertou que os talibãs não terão acesso a "nenhum ativo do Banco Central que o governo afegão tenha nos Estados Unidos".

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