"Estou profundamente entristecido pelos acontecimentos. Mas não me arrependo da minha decisão de encerrar a guerra dos EUA no Afeganistão", declarou sobre a partida programada das tropas americanas até 31 de agosto.
O presidente democrata dedicou cerca de 20 minutos a um discurso à nação que era muito aguardado, após vários dias de silêncio diante do avanço histórico dos talibãs e da fuga do presidente afegão, Ashraf Ghani.
Enquanto a conquista meteórica dos talibãs e as cenas de caos no aeroporto de Cabul surpreendiam o mundo, Biden reconheceu que o governo afegão caiu "mais rapidamente" do que o previsto e sugeriu que lhe faltou vontade de enfrentar os talibãs. "Demos a eles todas as oportunidades para escreverem seu próprio futuro. Não pudemos dar a eles a vontade de lutar por esse futuro", assinalou.
Biden rejeitou as críticas de que a evacuação é um desastre, apontando que a prioridade é interromper uma guerra que se estendeu muito além do seu objetivo inicial, de punir os talibãs por seus laços com a Al-Qaeda após os ataques de 11 de setembro de 2001.
O presidente reiterou que o interesse de Washington no Afeganistão sempre foi, principalmente, evitar ataques terroristas nos Estados Unidos, e afirmou que continuará "agindo rapida e decisivamente" contra qualquer ameaça terrorista que tenha origem naquele país. "Nunca se supôs que a missão no Afeganistão fosse construir uma nação".
Biden prometeu "levantar a voz" sobre os direitos das mulheres ante o retorno do mandato talibã e afirmou que "milhares de cidadãos" americanos e afegãos que colaboraram com Washington serão evacuados nos próximos dias.
Diante do caos, Biden ameaçou os talibãs com represálias caso eles interrompam as operações de evacuação no aeroporto de Cabul. Em caso de ataque, a resposta será "rápida e contundente", afirmou, prometendo defender os cidadãos americanos com "um uso devastador da força se necessário".
Segundo a Casa Branca, Biden retornará hoje à residência de descanso dos presidentes americanos em Camp David, onde ele passava férias quando a invasão dos talibãs o obrigou a ir para Washington.
Quarto presidente americano a comandar a guerra no Afeganistão, Biden é questionado inclusive por aqueles que saudaram sua eleição em novembro. "A História irá lembrar que Joe Biden presidiu a conclusão humilhante da experiência americana no Afeganistão", publicou o jornal "The New York Times".
- Casa Branca paralisada -
Frente à onda de críticas sem precedentes, a Casa Branca de Biden parecia paralisada nos últimos dias.
Quase uma semana se passou entre o último discurso público do presidente sobre o Afeganistão, em 10 de agosto, e o desta segunda-feira. Entre os dois, Biden, que parece ter deixado de lado a empatia que costuma ser sua marca registrada, não mudou sua mensagem: os Estados Unidos não têm mais nada a fazer no Afeganistão, algo inicialmente percebido de forma positiva pela opinião pública.
Mas isso foi antes de os Estados Unidos acompanharem a rápida queda de Cabul, um resultado que Biden declarou semanas atrás que não era "inevitável". Também foi antes de as redes de TV transmitirem imagens de helicópteros americanos sobre Cabul, que lembraram o pânico durante a evacuação da embaixada dos Estados Unidos nas últimas horas da Guerra do Vietnã, em 1975, um cenário que Biden também havia descartado secamente.
A oposição republicana, até agora envergonhada, porque a retirada do Afeganistão havia sido decidida pelo antecessor republicano de Biden Donald Trump, atacou o governo democrata pelo que considerou uma humilhação para o Exército americano. Resta saber quem os americanos irão culpar por isso, e se os fatos no Afeganistão terão um impacto político duradouro.
O congressista republicano Adam Kinzinger, que serviu no Afeganistão, descarregou no Twitter: "Culpo Trump por ter feito este momento acontecer, e Biden por esse resultado fracassado. Não escolho lado, porque ambos os lados falharam. Essa é a verdade."
WASHINGTON