A vitória dos talibãs no Afeganistão pode representar um novo impulso ao extremismo internacional, estimulado por uma nova derrota de uma potência estrangeira e o triunfo da estratégia, da negociação e da paciência.
Leia Mais
Biden garante dose de reforço de vacinas para covid-19 aos americanosJustiça espanhola ordena suspensão do toque de recolher em BarcelonaIrã passa dos 100.000 mortos por covid-19Vídeo antigo da execução de uma mulher circula associado ao Afeganistão em 2021Este sucesso tem um valor simbólico muito forte.
"Isso dá aos extremistas um tremendo impulso. Faz com que acreditem que também podem expulsar uma potência estrangeira, inclusive uma importante como os Estados Unidos", disse à AFP Colin Clarke, diretor de pesquisa do Soufan Center, um centro de estudos geopolíticos de Nova York.
"Sem dúvida, haverá um forte bombardeio de propaganda, que culminará no 20º aniversário dos atentados do 11 de setembro. Isso incentivará os extremistas do Norte da África ao Sudeste Asiático", acrescentou.
Segundo ele, porém, o caso afegão não pode ser, necessariamente, reproduzido em outros lugares, porque nem todos os grupos lutam contra potências estrangeiras.
"É pertinente no contexto da África Ocidental, onde tem-se falado muito sobre as negociações com o GSIM", o Grupo de Apoio Islâmico e Muçulmano afiliado à Al-Qaeda, afirmou Aymenn Jawad Al-Tamimi, pesquisador do Programa de Extremismo da Universidade George Washington, nos Estados Unidos.
A "resistência dos povos"
Os talibãs não se contentaram em deixar a situação piorar. Enquanto estavam em guerra, negociavam com os americanos e com o governo afegão. Com isso, moviam seus peões para frente.
Simbolicamente, sua vitória ajuda a convencer os militantes de que, "se continuarem lutando, seus adversários acabarão derrubados", acrescentou o pesquisador iraquiano.
Nas últimas 24 horas, as redes sociais se encheram de propaganda extremista.
A agência de propaganda da Al-Qaeda, Al-Thabat, afirmou que "os muçulmanos e mujahedines do Paquistão, Caxemira, Iêmen, Síria, Gaza, Somália e Mali estão celebrando a libertação do Afeganistão e a aplicação da sharia".
Quanto ao Estado Islâmico, a questão é, obviamente, mais difícil. Quando a Al-Qaeda prometeu lealdade ao Talibã, o EI chamou-os de traidores. No Afeganistão, o ódio é ainda mais persistente, porque o Estado Islâmico em Khorasan (ISKP) foi criado por desertores talibãs.
De qualquer modo, o Estado Islâmico também está se beneficiando do colapso do Estado afegão.
"Mr. Q", um especialista ocidental sobre o grupo extremista que publica suas pesquisas no Twitter sob este pseudônimo, constatou 216 ataques do ISKP entre 1º de janeiro e 11 de agosto, contra 34 no mesmo período do ano passado.
"Nem tudo está diretamente relacionado com a retirada americana, mas a vitória do Talibã também dá um impulso ao ISKP, disse à AFP.
Lembrança do Iraque em 2011
Dr. Q também destaca que, além do ódio entre os grupos, há objetivos convergentes.
"O EI fala, frequentemente, sobre o fato de os ocidentais não poderem ficar para sempre" em terras estrangeiras. Neste sentido, o triunfo dos talibãs "legitima sua forma de agir".
Colin Clarke também aponta que o caos e a guerra são as condições básicas para o desenvolvimento de qualquer grupo extremista.
"O colapso do Exército afegão é uma estranha lembrança do que vimos no Iraque em 2011. Temo que a mesma situação se repita no Afeganistão, com o desenvolvimento simultâneo do EI e a ressurreição da Al-Qaeda", advertiu.
Aqui está, talvez, a maior lição que os talibãs ensinaram à esfera extremista mundial: a paciência e a determinação podem triunfar, independentemente do inimigo. Uma lição estimulante para todos os movimentos com ambições locais, opositores, ou aliados, dos novos líderes de Cabul.