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Estado de Minas PARIS

Redes sociais diante do dilema dos talibãs


20/08/2021 06:24

Quando os talibãs governaram o Afeganistão entre 1996 e 2001, as redes sociais ainda não existiam como atualmente. Com seu retorno ao poder, os gigantes americanos Facebook e Twitter enfrentam um debate entre proibir as contas ligadas a "organizações terroristas" e o interesse geral da informação.

Enquanto sua entrada em Cabul provocava pânico internacional, os talibãs usaram o Twitter para divulgar uma mensagem de calma.

O porta-voz internacional do grupo, Suhail Shaheen, que tem 350.000 seguidores no Twitter, afirmou, por exemplo, que as informações de que os talibãs obrigam jovens a casar com seus combatentes eram "propaganda envenenada".

A possibilidade de uso do Twitter pelos talibãs irrita muitos, especialmente os seguidores do ex-presidente americano Donald Trump, suspenso desta rede social em janeiro por suposto risco de incitar a violência.

"Espero com impaciência uma resposta sobre por quê se permite a dois porta-vozes dos talibãs algo que é proibido a um ex-presidente americano", afirmou o representante republicano Doug Lamborn em uma carta enviada ao CEO do Twitter, Jack Dorsey.

O debate está entre os que, como Lamborn, estão indignados com o fato de o Twitter proporcionar uma plataforma aos talibãs para que se apresentem e busquem legitimidade e aqueles que alegam que privar o grupo de um meio de comunicação é contrário ao interesse da informação, sobretudo quando os afegãos desejam saber o que esperar dos novos governantes.

No WhatsApp, a conta do porta-voz dos talibãs, Zabihullh Mujahid, parece estar bloqueada, o que um porta-voz dos talibãs se recusou a confirmar à AFP.

- "Organizações terroristas" -

O Facebook, proprietário do WhatsApp, confirmou que considera o Talibã uma "organização terrorista" e, portanto, bloqueia suas contas na plataforma, assim como o Instagram, que também pertence ao grupo.

"Os talibãs estão sancionados como organização terrorista segundo a lei americana e proibimos que usem nossos serviços de acordo com nossa política sobre 'organizações perigosas'. Isto significa que suprimimos as contas administradas por ou em nome dos talibãs e proibimos seus elogios, apoios e representações", afirmou à AFP um porta-voz do Facebook.

Isto provocou uma resposta de Mujahid quando foi questionado se os talibãs protegeriam a liberdade de expressão: "Esta pergunta deveria ser feita ao Facebook".

YouTube, que pertence ao Google, anunciou que suprimiria os conteúdos pró-Talibã. O Twitter não fez nenhum comentário.

Shaheen e outros três porta-vozes dos talibãs, que em conjunto têm quase um milhão de seguidores no Twitter, continuam escrevendo nesta rede social, o que parece indicar que não estão incluídos no grupo de "organizações violentas", que já serviu para suprimir conteúdo publicado por organizações islamitas como Hamas e Hezbollah.

Além disso, o status dos talibãs é um tanto ambíguo. Considerados como "organização terrorista" pelo Tesouro americano, eles não são uma "organização terrorista estrangeira" para o Departamento de Estado.

Para Raman Chima, diretor na Ásia do grupo de defesa da internet Access Now, as redes sociais deveria avaliar as possíveis mensagens que incitam a violência, ao invés de seguir as classificações dos governos.

Ainda não é possível saber se os talibãs poderão usar as contas oficiais dos ministérios do governo afegão, que têm milhares de seguidores e contam com o selo de verificação.

Os talibãs têm consciência do poder das redes sociais, uma arma que não tinham a sua disposição durante seu governo anterior, recorda Kabir Taneja, analista de antiterrorismo, que trabalha na Índia.

"Aprenderam muito sobre o poder da comunicação com outras (organizações) como o grupo Estado Islâmico", afirmou.

Especialmente ativos no Twitter durante sua ofensiva vitoriosa, os talibãs poderiam limitar o acesso dos afegãos à internet, adverte o analista, depois que vídeos de protestos contra os insurgentes em Jalalabad viralizaram esta semana.

"Este tipo de evento pode levar os talibãs a controlar de maneira firme o uso da internet no futuro", explicou.

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