"Não há qualquer processo de paz em curso com os palestinos, e não haverá nenhum", disse uma fonte próxima ao primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, nesta segunda-feira (30), após a reunião entre as duas autoridades na noite de domingo (29).
Há anos, não acontecia uma reunião neste nível entre ambos os lados.
As conversas em Ramallah, sede do Executivo de Abbas na Cisjordânia ocupada, foram dedicadas a "questões rotineiras de segurança" e à economia, acrescentou a mesma fonte.
Gantz disse ao presidente palestino que seu país estava tentando "tomar medidas para fortalecer a economia da Autoridade Palestina", indicou o ministério da Defesa israelense em um comunicado.
Durante a reunião, afirmou também que Israel emprestaria cerca de 500 milhões de shekels (155 milhões de dólares, 132 milhões de euros) à Autoridade Palestina, disse uma porta-voz do ministro à AFP.
A reunião aconteceu horas depois de Bennett ter voltado de Washington, D.C., onde se encontrou com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Líder de um partido centrista que integra a coalizão no poder em seu país, Gantz disse a Abbas "que Israel busca tomar medidas para fortalecer a economia da Autoridade Palestina. Também discutiram sobre como moldar as situações econômicas e de segurança na Cisjordânia e na Faixa de Gaza", informou o Ministério israelense da Defesa, em um comunicado.
Também participaram da reunião o comandante militar israelense responsável por Assuntos Civis nos Territórios Palestinos, Ghasan Alyan; Hussein al-Sheikh, um funcionário de alto escalão da Autoridade Palestina; e o chefe da Inteligência palestina, Majid Faraj.
O gabinete de Gantz disse que ele e Abbas tiveram "uma reunião cara a cara", após as conversas mais amplas, e "concordaram em manter a comunicação".
Al-Sheikh confirmou esta reunião em um tuíte, mas a Autoridade Palestina se recusou a comentar sobre seu conteúdo por enquanto.
Nos últimos anos, as relações entre Israel e a Autoridade Palestina se deterioraram. As negociações de paz para solucionar um conflito de mais de sete décadas estão em ponto morto desde 2014.
- Fortalecer a Autoridade Palestina -
Naftali Bennett, que assumiu o cargo em junho à frente de uma coalizão eclética, é um grande nacionalista e um opositor, de longa data, da criação de um Estado palestino. Também foi chefe de um conselho que faz "lobby" a favor das colônias judaicas na Cisjordânia, um território ocupado por Israel desde 1967.
Bennett e seu governo têm, no entanto, buscado restabelecer os laços com a Autoridade Palestina, rompidos durante o longo mandato do então premiê Benjamin Netanyahu (2009-2021), também de direita e pró-colônias. Contando com o apoio incondicional do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Netanyahu não fez qualquer esforço substancial para resolver o conflito.
O governo do democrata Joe Biden apoia, por sua vez, uma solução de dois Estados, israelense e palestino, e retomou a ajuda financeira à Autoridade Palestina.
O gabinete do atual primeiro-ministro deixou claro que a coalizão heterogênea de Israel, que vai da esquerda à extrema direita, não planeja iniciar conversas de paz com os palestinos.
Funcionários de alto escalão do governo israelense sinalizaram, porém, seu interesse em fortalecer a Autoridade Palestina, em meio a temores de novos conflitos com o movimento islâmico Hamas, que governa a Faixa de Gaza.
O Hamas denunciou a reunião desta segunda entre Gantz e Abbas, afirmando que "agrava as divisões palestinas".
Inimigos jurados, Israel e Hamas travaram uma guerra de 11 dias em maio deste ano. Após a trégua alcançada graças a várias mediações, as trocas de tiros e atos de violência esporádicos continuam.
No domingo (29), Israel executou ataques aéreos contra a Faixa de Gaza, depois que balões incendiários foram lançados sobre seu território a partir do enclave palestino.
Na semana passada, os confrontos entre manifestantes palestinos e policiais israelenses perto da fronteira entre Gaza e Israel deixaram dois palestinos e um franco-tirador israelense mortos, além de dezenas de feridos do lado dos manifestantes.
RAMALLAH