O anúncio da formação de um gabinete - que duas fontes talibãs disseram à AFP que poderia ocorrer na sexta-feira - ocorrerá poucos dias após a caótica partida do país das forças dos Estados Unidos, encerrando a guerra mais longa travada por Washington no exterior.
Embora os países ocidentais tenham assumido uma atitude cautelosa em relação às promessas do movimento de impor um regime mais moderado do que o que governou o país entre 1996 e 2001, há sinais de alguma interação com as novas autoridades.
As Nações Unidas anunciaram a retomada dos voos humanitários entre a capital do Paquistão, Islamabad, e as cidades de Mazar-i-Sharif, no norte, e Kandahar, no sul do Afeganistão.
As empresas americanas Western Union e Moneygram reiniciaram seus serviços de remessas de dinheiro, dos quais muitos afegãos dependem para sobreviver.
O Catar disse que está trabalhando para reabrir o aeroporto de Cabul e que os chanceleres italiano e britânico vão viajar a países da região nos próximos dias para discutir a questão dos refugiados que ainda querem escapar do Talibã.
Além disso, um porta-voz talibã garantiu que o ministro das Relações Exteriores chinês prometeu manter sua embaixada aberta em Cabul.
- "Não temos medo" -
Agora todos os olhos estão voltados para o novo gabinete do Talibã, e se ele será capaz de recuperar uma economia devastada e honrar seu compromisso de um governo "inclusivo".
Mas, o que parece claro, de acordo com uma autoridade do Talibã, é que "pode não haver" mulheres encarregadas de ministérios ou em cargos de responsabilidade.
Durante seu período no poder entre 1996 e 2001, marcado pela aplicação estrita da lei islâmica (sharia), as mulheres foram banidas do espaço público afegão.
Nesta quinta-feira, na cidade de Herat, capital cosmopolita do oeste do Afeganistão, 50 mulheres protestaram para reivindicar o direito ao trabalho e solicitar participação no novo Executivo.
"É nosso dever ter educação, trabalho e segurança", gritaram as manifestantes em uníssono. "Não temos medo, estamos unidas", acrescentaram.
"Queremos que o Talibã aceite falar conosco", disse à AFP uma das organizadoras do protesto, Basira Taheri.
Entre as 122 mil pessoas afegãs e estrangeiras que fugiram do Afeganistão nas últimas semanas graças às retiradas organizadas pelos países ocidentais, estava a primeira jornalista afegã a entrevistar uma autoridade talibã ao vivo na televisão.
Beseshta Arghand, jornalista da rede privada afegã Tolo News, teve que fugir para o Catar, temendo por sua vida, quando os fundamentalistas tomaram o poder.
"Quero dizer à comunidade internacional: por favor, faça algo pelas mulheres afegãs", disse ela à AFP na quarta-feira.
- Economia destruída -
Por outro lado, o novo governo afegão enfrentará uma tarefa imensa: reconstruir uma economia devastada por duas décadas de guerra e dependente da ajuda internacional, em grande parte congelada após a tomada do poder pelos fundamentalistas.
Nas ruas de Cabul, essa é a grande preocupação.
"Com a chegada do Talibã, pode-se dizer que há segurança, mas os negócios estão abaixo de zero", disse Karim Jan, comerciante de eletrônicos, à AFP.
O Talibã deve encontrar fundos com urgência para pagar os salários dos funcionários públicos e manter a infraestrutura vital (fornecimento de água, eletricidade, comunicações) em funcionamento.
Uma de suas prioridades será a operação do aeroporto de Cabul, essencial para o apoio médico e humanitário de que o país precisa.
A ONU alertou no início da semana para uma "iminente catástrofe humanitária" e pediu a garantia de saída do país para aqueles que desejem ir embora.
Nesta quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores do Catar, Mohamed bin Abdelrahman al-Thani, disse que seu governo está negociando com o Talibã para reabrir o aeroporto de Cabul "o mais rápido possível", embora "nenhum acordo" tenha sido alcançado a esse respeito.
No dia anterior, um avião do Catar com equipe técnica pousou neste aeroporto.
Segundo comentou à AFP uma fonte informada sobre o assunto, o Catar enviou esta equipe para falar sobre a "retomada das operações no aeroporto", já que o Talibã solicitou "assistência técnica".
Nesta quinta-feira, a Turquia afirmou que estuda em colaboração com os Talibãs e outros interlocutores assumir um papel na gestão do aeroporto de Cabul.
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