Preso em uma penitenciária de Trípoli desde 2014, Saadi Kadhafi, ex-jogador de futebol com fama de "playboy", foi liberado no domingo "em execução de uma decisão judicial" emitida há alguns anos, declarou à AFP uma fonte do ministério da Justiça, sem especificar se ele ainda estava na Líbia.
"Saadi foi entregue à família de acordo com os processos legais", afirmou nesta segunda-feira (6) o governo de unidade nacional em um comunicado. Nenhum membro da família Kadhafi mora na Líbia - a maioria está em Omã.
Vários meios de comunicação locais informaram que Saadi Kadhafi, de 47 anos, viajou da Líbia para a Turquia.
Saadi Kadhaf fugiu para o Níger após o levante que depôs seu pai em 2011 e, três anos mais tarde, foi extraditado de volta para a Líbia.
O ex-jogador de futebol profissional estava detido em uma prisão de Trípoli acusado de crimes contra manifestantes em 2011 e pelo assassinato do técnico de futebol líbio Bashir al-Rayani.
Um tribunal de apelações o absolveu em abril de 2018 no caso da morte de Rayani.
Também deveria ser julgado por suposto envolvimento na violenta repressão da revolta que acabou com o regime de seu pai Muamar Kadhafi em 2011.
- "Sem exceção" -
Desde 2011, a Líbia vive mergulhada no caos, com facções rivais disputando o poder. Apesar da trégua nos combates em 2020 e de uma resolução de cessar-fogo, as divisões persistem no país.
Em seu comunicado, o governo de unidade - formado em março com a mediação da ONU - recorda o compromisso de "libertar todos os prisioneiros de acordo com as decisões da justiça, sem exceção", com a intenção de prosseguir para uma "reconciliação nacional inclusiva, baseada na aplicação e respeito da lei".
Poucas horas depois da liberação de Saadi Kadhafi, o conselho presidencial, que integra o governo de transição, anunciou nesta segunda-feira "a libertação de vários presos políticos (...) que cumpriram suas penas ou que não foram julgados, entre eles Ahmad Ramadan al Asebei".
Este último, ex-coronel do exército e ex-chefe de gabinete e dos serviços de inteligência de Muamar Kadhafi, foi detido em setembro de 2011.
O atual Executivo tem que organizar eleições legislativas e presidenciais em dezembro, mas as votações parecem cada vez mais improváveis devido à ausência de um marco constitucional para as mesmas.
Saadi é o terceiro filho do ex-ditador líbio, que chegou ao poder após um golpe de Estado em 1969.
Durante 42 anos, ele governou o país com mão de ferro.
O ditador concentrou poder ao redor do círculo familiar e destruiu todas as instituições, políticas ou militares, que representassem uma sombra.
A família não escondia o opulento estilo de vida, com direito a aviões privados, carros esportivos e iates de luxo.
Em 11 de outubro de 2011, os rebeldes atacaram Sirte, cidade natal de Muamar Kadhafi, onde morreram o governante e seu filho Mutasim.
Outro filho, Seif al-Arab, faleceu em um bombardeio da Otan em abril de 2011, e seu irmão Khamis perdeu a vida em combate quatro meses depois.
Outros membros do clã sobreviveram: sua mulher Safiya, o filho mais velho Mohammed, a filha Aisha, além dos outros filhos Seif al-Islam - visto como o sucessor -, o perdulário Hannibal e o "playboy" Saadi.
Saadi, ex-presidente da Federação Líbia de Futebol, jogou por pouco tempo no campeonato italiano, antes da Interpol solicitar sua detenção e a de sua família pelo papel na repressão de 2011.
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