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Estado de Minas SAN SALVADOR

Governo de El Salvador ignora ceticismo e se prepara para adotar bitcoin como moeda


06/09/2021 21:48 - atualizado 06/09/2021 21:50

El Salvador, que já comprou suas primeiras 400 criptomoedas bitcoin, se tornará nesta terça-feira o primeiro país a reconhecer a tecnologia como moeda legal, em meio ao forte ceticismo e a advertências de economistas e órgãos financeiros internacionais.

"El Salvador acaba de comprar 200 novas moedas. Agora, temos 400 bitcoins", destacou o presidente do país, Nayib Bukele, em mensagem pelo Twitter escrita em inglês.

Os 400 bitcoins estavam avaliados nesta segunda-feira em cerca de US$ 21 milhões, de acordo com o aplicativo de troca de criptomoedas Gemini.

Horas antes, Bukele havia dito "Amanhã, pela primeira vez na História, os olhos do mundo estarão voltados para El Salvador", tuitou em inglês o presidente Nayib Bukele.

O governo de Bukele garante que a polêmica medida contribuirá para a bancarização da população e evitará uma perda de 400 milhões de dólares nas remessas que os salvadorenhos enviam do exterior e que representam 22% do PIB, embora alguns especialistas questionem a afirmação.

Em El Salvador, que dolarizou sua economia há duas décadas, a maioria dos 6,5 milhões de salvadorenhos rejeita o bitcoin promovido por Bukele e prefere continuar usando o dólar, segundo as últimas pesquisas.

"Esse bitcoin é uma moeda que não existe, é uma moeda que não vai favorecer os pobres e sim os ricos, porque o pobre, que mal tem pra comer, não pode investir", comentou à AFP José Santos Melara, veterano da guerra civil (1980-1992) que na sexta-feira participou de um protesto contra a criptomoeda.

Sete em cada 10 salvadorenhos indicaram que "discordam ou discordam veementemente" do bitcoin, que circulará ao lado do dólar, apontou uma pesquisa recente da Universidade Centro-Americana (UCA), que consultou 1.281 pessoas em meados de agosto.

Dos mais de 1.500 consultados em outra pesquisa do jornal La Prensa Gráfica, 65,7% disseram que desaprovam a criptomoeda.

A diretora do Instituto de Opinião Pública da UCA, Laura Andrade, garante que a população resiste ao bitcoin por não considerá-lo uma forma de melhorar sua situação econômica.

"São decisões sem consulta que este governo têm tomado em conjunto com os legisladores, e que as pessoas não percebem um impacto positivo para transformar significativamente suas condições de vida", apontou Andrade à AFP.

A pesquisa da UCA indicou que 65,2% da população não tem interesse em baixar a carteira eletrônica "Chivo" necessária para fazer compras e vendas em bitcoins, e não concorda que o governo conceda o equivalente a US $ 30 como incentivo aos usuários da criptomoeda.

Mas Jorge García, um cabeleireiro de 34 anos que usa bitcoin há três, acredita que "tem futuro" e espera que "aumente seu valor".

A Assembleia Legislativa aprovou a lei do bitcoin em junho, e no fim de agosto endossou um fundo de 150 milhões de dólares para garantir a "conversibilidade automática" do bitcoin ao dólar. A lei estabelece que o câmbio entre o bitcoin e o dólar "será livremente estabelecido pelo mercado" e obriga "a aceitar o bitcoin como forma de pagamento".

Em todo o país, o governo instala mais de 200 "pontos Chivo", caixas eletrônicos bitcoin, alguns protegidos pelo exército para evitar possíveis depredações.

Economistas e organizações como o Banco Mundial, o FMI e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) são céticos quanto à adoção do bitcoin como moeda legal juntamente com o dólar.

Terá um "impacto negativo" nas condições de vida da população dada a "alta volatilidade da cotação" e "afetará os preços de bens e serviços", afirma o economista Óscar Cabrera, da Universidade de El Salvador.

O fato de sua cotação ser determinada "exclusivamente pelo mercado" torna o bitcoin "altamente volátil", alertou a Fundação Salvadorenha para o Desenvolvimento Econômico e Social (Fusades).

A Fundação também considera "inconstitucional" impor "a aceitação obrigatória do bitcoin como forma de pagamento quando oferecido" em qualquer transação econômica.

Incentivado por uma alta aprovação pública, mas criticado por várias medidas consideradas autoritárias e que afetam a independência entre os poderes do Estado, Bukele defende sua decisão e acusou a oposição de "assustar" a população sobre a criptomoeda.

Os Estados Unidos pediram a El Salvador para ter um uso "regulamentado", "transparente" e "responsável" do bitcoin e "para se proteger de atores malignos".


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