Há 13 anos, Dmitri Lobusov comanda o "50 let Pobedy" (50 anos da Vitória), um dos enormes navios nucleares construídos pela Rússia para garantir sua supremacia marítima no Ártico e poder explorar seus recursos naturais e suas rotas comerciais incipientes.
O capitão de 57 anos, que alterna quatro meses a bordo e quatro em terra, é apaixonado pelo gelo que cruza com seu imenso navio vermelho e preto da agência atômica russa, a Rosatom.
Seu funcionamento é tão silencioso que é possível ouvir o gelo quebrando sob o casco.
Na velocidade mínima, este monstro de metal de 159,6 metros de comprimento parece deslizar como patins no gelo.
Na baía de Essen, em frente à costa da Terra de Francisco José, uma das quase 200 ilhas que compõem o arquipélago polar russo, um urso branco mal se intimida com a passagem do navio.
"Aqui quem manda são os ursos, é a casa deles. A gente está de passagem. Se estão no nosso caminho, a gente freia, ou nós os contornamos", diz o capitão.
Seu navio já atingiu 59 vezes os 90 graus de latitude norte, o polo geográfico. Este marinheiro, de barba grisalha e cachimbo na boca, conhece bem a região e suas mudanças.
Depois de quase 30 anos no mar, o que conhece melhor é o gelo que ele atravessa. E, devido às mudanças climáticas, não é mais o mesmo.
- Antes, gelo mais espesso -
"Venho ao polo desde 1993 e, nos anos 1990 e início dos 2000, o gelo era mais complexo, difícil, espesso", explica, impecável em seu uniforme azul-marinho.
"Existiam muitos gelos plurianuais, que dificilmente encontramos hoje", diz o capitão, que tem a missão de mostrar o Ártico a alunos do ensino médio que venceram um concurso científico.
A banquisa plurianual é mais compacta, porque, tendo se formado ao longo de vários anos, é pobre em sal, explica. Hoje, porém, a maior parte desse "campo branco" é composto de gelo fresco que derrete rapidamente no verão.
Segundo os cientistas, não há dúvida de que o aquecimento global é o responsável.
Em comparação com a década de 1980, a área da banquisa ártica da Rússia é "cinco a sete vezes menor", segundo o instituto meteorológico Rosguidromet em um relatório de março passado.
O relatório também revela que o aquecimento na Rússia, com um terço do território dentro do círculo polar, é mais rápido do que a média planetária. Desde 1976, a temperatura subiu 0,51ºC por década.
Com uma economia baseada na extração de hidrocarbonetos, a Rússia reconhece a existência do aquecimento, mas muitos minimizam seu vínculo com as atividades humanas.
Viktor Boyarski, passageiro do "50 let Pobedy", é um deles.
Este explorador de 70 anos, ex-diretor do Museu Russo do Ártico e da Antártica, estima que a atividade humana "não desempenha um papel fundamental" neste fenômeno, apesar da abundância de evidências.
- 'Reação em cadeia' -
Ele observa, no entanto, que a região polar entrou em um círculo vicioso, já que o recuo do gelo permite que as águas temperadas do oceano Atlântico entrem na bacia ártica.
Isso "evita que o gelo se forme como acontecia há 20, ou 30 anos", diz este ex-explorador, que é uma celebridade na Rússia.
"É um processo de reação em cadeia: quanto menos gelo, mais água e mais calor. E, quanto mais calor, mais a extensão do gelo se reduz", explica, diante da névoa que envolve o Polo Norte.
Depois de anos no mar, o capitão Lobusov testemunhou a devastação do clima nas ilhas árticas.
"Quando passamos pelo arquipélago de Francisco José, vemos que os glaciares já não estão onde estavam indicados nos mapas", explica.
"As geleiras recuam. Não há discussão, nem dúvida, e é efeito do calor", insiste.
O marinheiro menciona outro indício das mudanças em andamento. No verão, o Polo Norte fica "coberto de névoa".
"Acho que é o efeito do aquecimento. Tem mais umidade no ar", diz. "Antes, ir ao polo sem óculos escuros era impossível devido ao brilho do sol", lembra.
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