Durante um fórum sobre o estado da democracia na América Latina, organizado pela Sociedade das das Américas (Ascoa), Almagro indicou que o governo de Maduro "apostou muito no cansaço da comunidade internacional", com o que as expectativas das conversas atuais no México são menores em relação às negociações de alguns anos atrás.
"E essas negociações, que realmente espero que terminem bem, são mais um projeto de normalização do que de democracia plena no país", disse o diplomata uruguaio, crítico de Maduro desde que assumiu o cargo na OEA em 2015.
Almagro considerou possível alcançar essas "aspirações reduzidas" com vistas à superação da crise política no país sul-americano, mas considerou que isso não significará uma mudança radical.
"Isso não significa que o regime abrirá mão de seu próprio poder, ou da forma como controla as contas do Estado, ou abrirá mão de instituições que são fundamentais para sustentar sua forma de operar", argumentou.
De acordo com Almagro, "algumas coisas serão um pouco alteradas para torná-las mais apresentáveis agora". Mas não se pode esperar que "os responsáveis por crimes contra a humanidade sejam devidamente julgados na Venezuela". "Não vejo isso como resultado dessas negociações", disse ele.
- "Conseguir o máximo que der" -
No entanto, Almagro pediu que o diálogo avance porque é fundamental encontrar "soluções para o povo venezuelano".
"Vamos torcer pelo melhor e fazer o nosso melhor para avançar o mais rápido que pudermos, porque as pessoas estão sofrendo de uma forma muito dramática", lamentou.
Almagro sublinhou que quando se perde a democracia, perdem-se também os direitos civis e políticos, os direitos sociais, econômicos e culturais, e "isso é muito doloroso para o povo".
Ele também não se mostrou otimista com o fim da migração venezuelana se as negociações fossem adiante.
"Podemos ter que lidar com a maior crise humanitária da história do hemisfério depois da era colonial. E depois a maior crise migratória e isso não se reverterá", disse sobre a Venezuela.
"Minha preocupação é que as pessoas não têm para onde ir", acrescentou. E com tom sombrio destacou: "Não faz muito tempo que vimos isso com os cubanos".
Ainda assim, Almagro pediu "conseguir o máximo que der" nas negociações.
O governo de Maduro, reeleito há três anos até 2025 em eleições polêmicas, e a Plataforma Unitária da Venezuela, que agrupa a oposição, iniciaram negociações na Cidade do México em meados de agosto para encerrar a aguda crise política e econômica do país, de acordo com um memorando de entendimento.
A Venezuela, governada por Maduro desde 2013, vive um desastre social e econômico que, de acordo com a última atualização da ONU, obrigou 6 milhões de pessoas a deixar o país nos últimos anos.
WASHINGTON