Apesar de ter um sistema de imunização em massa mundialmente famoso, o país de 213 milhões de habitantes iniciou sua campanha em janeiro, várias semanas depois dos Estados Unidos, grande parte dos países europeus e outros como Argentina e Chile.
A campanha começou lenta e com interrupções, mas engrenou em seguida e logo os números de mortos caíram de uma média diária de mais de 2.000 em junho para menos de 600.
Hoje, o segundo país do mundo mais afetado pelo vírus, com mais de 588 mil mortos, já está vacinando adolescentes e aplicando terceiras doses em muitos estados.
Segundo dados do portal Our World in Data, o Brasil tornou-se o quarto país que mais administrou doses (214 milhões), atrás da China, Índia e Estados Unidos, e também o terceiro que mais vacina diariamente, com um média de um milhão e meio de unidades nos últimos sete dias.
- À frente dos EUA -
"A aceleração foi observada a partir de maio-junho, com a chegada e o fornecimento muito mais coerente das vacinas", explica à AFP José David Urbáez, presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal.
O Brasil decidiu focar na primeira dose, com intervalos maiores para a segunda para preservar os estoques. Nos últimos três meses, o número de brasileiros vacinados com a primeira dose quase triplicou, chegando a 67,6% da população, percentual até um pouco superior ao dos Estados Unidos (63,4%) e da Argentina (63,8%), segundo balanço da AFP.
Os totalmente imunizados representam em torno de 36%, número ainda muito inferior ao de outros países, mas que coloca o Brasil na terceira posição entre os dez mais populosos.
Por enquanto, quatro vacinas estão sendo administradas. As duas mais utilizadas são AstraZeneca e Coronavac, ambas com produção no Brasil, mas também há imunizantes da Pfizer e Janssen (dose única).
Um ponto a favor é que no Brasil o movimento antivacinas é minoritário: a grande maioria dos brasileiros quer se vacinar, segundo as últimas pesquisas.
Esses números não apagam, no entanto, a gestão caótica da pandemia por Bolsonaro, um cético do vírus que chegou a dizer que quem tomasse a vacina Pfizer poderia se tornar "um jacaré".
- "Demorou muito" -
Em um posto de saúde em Brasília, que imunizava adolescentes de 14 anos na quarta-feira, a analista judicial Paula Vasconcelos da Silva disse à AFP que se sentiu "aliviada" após vacinar a filha, mas lamentou que a campanha "demorou muito".
Sentimento compartilhado por Mônica de Barros, funcionária aposentada de 57 anos: "Centenas de milhares de mortes poderiam ter sido evitadas se tivesse uma ação mais firme e menos negacionista" de Bolsonaro, expressou ela após receber a segunda dose.
A falta de planejamento na compra das vacinas e as tensões diplomáticas derivadas das polêmicas declarações de Bolsonaro, em particular sobre a China, pesaram sobre a importação das primeiras doses e dos insumos para fabricá-las.
Se o governo tivesse começado a negociar vacinas em meados do ano passado, "em maio ou junho o Brasil já teria vacinado a população necessária", explica Urbáez.
- Sem créditos eleitorais?
Bolsonaro, que busca a reeleição em 2022, tem uma centena de pedidos de impeachment contra ele e sua popularidade no nível mais baixo (24%), devido à pandemia, mas também à inflação crescente e ao alto desemprego.
"Acredito que o avanço da vacinação terá consequências muito positivas para o Brasil, como a redução do número de mortes e mais possibilidades de reabertura de lojas e estabelecimentos comerciais, mas que dificilmente isso significará aumento da popularidade do presidente", explicou o cientista político Maurício Santoro à AFP.
Além disso, Bolsonaro é alvo de várias investigações judiciais, uma delas por não denunciar suspeitas de corrupção na compra de vacinas contra a covid.
Uma comissão do Senado investiga supostas omissões do governo no combate à pandemia, cujo relatório pode significar um novo golpe para o presidente.
Em uma charge publicada meses atrás pelo Diário Catarinense, Bolsonaro aparece em uma sala de vacinas com a pergunta: "Tem vacina contra CPI?"
audima