Bouteflika deixou o poder em abril de 2019, sob pressão dos militares, após semanas de protestos contra seus planos de disputar o quinto mandato. Desde a sua saída do poder, depois de 20 anos, Bouteflika permaneceu recluso sob cuidados médicos em sua residência, em Zeralda.
Nascido em 2 de março de 1937, Bouteflika morreu "às 22h, em casa", informou a rede privada El Hayet TV. Onipresente por décadas na vida política argelina, o ex-governante tornou-se quase invisível desde que sofreu um AVC, em 2013, pelo qual passou três meses em recuperação.
Bouteflika manteve-se em silêncio desde que o movimento de contestação popular do "Hirak" e as Forças Armadas o obrigaram a renunciar. Naquela ocasião, ele apareceu pela última vez na TV, para anunciar que jogava a toalha.
Conhecido no país como "Boutef", o ex-presidente ajudou a trazer a paz à Argélia após mais de 10 anos de guerra civil na década de 1990. No entanto, enfrentou críticas de grupos de direitos humanos e opositores que o acusaram de autoritarismo e repressão.
Bouteflika sobreviveu à Primavera Árabe, que depôs outros governos do Norte da África entre 2010 e 2011. Mas outro movimento popular pôs fim ao seu governo anos depois.
- Obcecado pelo poder -
Apesar de seu papel preponderante na vida da Argélia, a TV oficial limitou-se a anunciar a morte do ex-governante sem interromper sua programação regular. Da mesma forma, autoridades não fizeram comentários nas primeiras horas após a morte de Bouteflika, embora as redes sociais estivessem cheias de publicações sobre o desaparecimento do homem que governou a Argélia de 1999 a 2019.
"Abdelaziz Bouteflika morreu deixando para trás um país destruído", escreveu a internauta Sabrina Debabcha em sua página no Facebook.
Após o acidente vascular cerebral, que o deixou afásico e em cadeira de rodas, Bouteflika se tornou um alvo constante de boatos relacionados à sua morte e passou a aparecer ocasionalmente em público para negar as versões.
"Durante toda a vida, Abdelaziz Bouteflika foi motivado por duas obsessões: conquistar o poder e mantê-lo a qualquer preço", disse à AFP o jornalista Farid Alilat, autor do livro "Bouteflika, a História Secreta". "Ele queria conquistar o quinto mandato, apesar de estar doente", assinalou.
Eleito pela primeira vez em 1999, Bouteflika foi reeleito em 2004, 2009 e 2014, sempre com mais de 80% dos votos. Mas sua tentativa de vencer a quinta eleição com a saúde debilitada esgotou a paciência dos argelinos, que saíram para protestar em massa contra seus planos de ser reeleito, forçando a sua renúncia.
ARGEL