O presidente americano, Joe Biden, está impaciente por falar por telefone com o colega francês, Emmanuel Macron, disse nesta segunda-feira (20) um alto funcionário americano.
Biden quer falar com Macron "sobre o caminho a seguir", acrescentou o funcionário.
"Entendemos a posição da França. Não compartilhamos de seu ponto de vista", emendou.
Também nesta segunda, o porta-voz do governo francês, Gabriel Attal, tinha dito no domingo que "Biden pediu para falar com o presidente da República e vai acontecer uma conversa telefônica nos próximos dias".
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, destacou nesta segunda que "os princípios mais elementares para os aliados são transparência e confiança e estas andam juntas. Estamos vendo uma clara falta de transparência e lealdade", disse em um encontro com a imprensa nas Nações Unidas, antes da Assembleia Geral da organização.
A presidente da Comissão Europeia, braço executivo da UE, Ursula von der Leyen, disse à CNN que o tratamento reservado à França pela Austrália no contexto da aliança com os Estados Unidos e o Reino Unido, é "inaceitável" e que o caso requer uma análise profunda.
"Um dos nossos Estados-membros foi tratado de forma inaceitável. Queremos saber o que aconteceu e porque", disse Von der Leyen, em alusão ao cancelamento de um bilionário contrato de submarinos entre a França e a Austrália.
Os ministros europeus das Relações Exteriores que estão em Nova York para a Assembleia Geral da ONU vão se reunir para discutir as consequências do novo acordo militar entre Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, denominado AUKUS.
"Será a primeira oportunidade para que os chanceleres da UE discutam as consequências de todo o acordo, não só as dificuldades entre a França e a Austrália, mas o impacto de toda a aliança AUKUS", disse o porta-voz Peter Stano, do Executivo comunitário.
A decisão da Austrália de quebrar um contrato para a compra de submarinos franceses em favor de navios com propulsão nuclear norte-americana gerou indignação em Paris.
Macron convocou os embaixadores franceses em Canberra e Washington para consultas, em um gesto sem precedentes.
O vice-primeiro-ministro australiano, Barnaby Joyce, assegurou nesta segunda-feira que seu país "não precisa mostrar afinidade e afeto" pela França, porque tem "dezenas de milhares de australianos que morreram em solo francês ou protegendo solo francês" nas duas guerras mundiais.
- Encontro anulado -
Estados Unidos, Austrália e Reino Unido anunciaram na quarta-feira uma aliança estratégica para conter a China, incluindo a venda de submarinos nucleares norte-americanos para Canberra, que tirou os franceses do jogo.
Em resposta, uma reunião agendada para esta semana entre a ministra da Defesa francesa, Florence Parly, e seu colega britânico, Ben Wallace, foi cancelada a pedido da França, de acordo com uma fonte do ministério francês.
Horas depois, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson garantiu que "esta associação não pretende ser exclusiva (...) Não é algo que deva preocupar, em particular aos nossos amigos franceses".
Johnson ressaltou ainda que os dois país têm "uma relação muito amigável" de "imensa importância" e declarou o amor "impossível de erradicar" que seu país tem pelos franceses.
Mais cedo no domingo, o primeiro-ministro australiano Scott Morrison rejeitou as acusações francesas de que seu governo mentiu sobre a compra dos submarinos.
"Não me arrependo da decisão de colocar o interesse nacional da Austrália em primeiro lugar. Nunca me arrependerei", disse ele.
Os submarinos de propulsão nuclear são mais autônomos do que os de propulsão convencional (diesel e eletricidade) previstos no contrato com a França.
No sábado, o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, disse que o caso gerou uma "crise séria".
A França assinou um contrato de 56 bilhões de euros (US $ 67,2 bilhões) em 2016 para vender à Austrália 12 submarinos convencionais, que foi descrito como o "contrato do século" por sua magnitude e importância estratégica.
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