Perguntado pela AFP durante uma coletiva de imprensa sobre contaminação nesta quarta, o diretor-geral da OMS rejeitou confirmar se tentaria um novo mandato de cinco anos, mas fontes diplomáticas afirmaram que ele pretende seguir no cargo.
Berlim, por sua vez, não ofereceu até agora detalhes sobre o número de países que apoiam a sua candidatura, mas um porta-voz do Ministério da Saúde alemão disse à AFP, de forma bem sucinta, que "a Alemanha propõe Tedros para outro mandato". O apoio oficial de um país é essencial para que alguém possa ser candidato.
Especialista em malária, diplomado em imunologia e doutor em saúde comunitária, Tedros, que já foi ministro da Saúde e das Relações Exteriores da Etiópia, foi o primeiro diretor-geral da OMS a ser eleito, em 2017.
Antes disso, uma candidatura única, proposta pelo Conselho Executivo da organização, era submetido à votação dos países-membros.
Tedros Adhanom Ghebreyesus também é o primeiro africano a liderar essa entidade importante da ONU, que está na linha de fogo desde o início da pandemia, o que o tornou um dos rostos mais conhecidos na luta contra a covid-19.
Não obstante, mesmo que conte com o apoio de muitos integrantes da OMS, sua candidatura passou a ser questionada desde que a Etiópia retirou o seu apoio por causa do conflito na região de Tigré, no norte do país e sua terra natal.
O líder da OMS, nascido na cidade de Asmara, provocou a ira do governo em Adis Abeba ao utilizar a plataforma da OMS em várias ocasiões para condenar a repressão em Tigré.
Apesar de ter feito poucos comentários públicos sobre o conflito, que começou em novembro de 2020 após uma ofensiva do governo federal contra forças locais, Tedros compartilha com certa frequência informação sobre a situação dramática em Tigré, que atualmente está em situação de insegurança alimentar.
- Surpresa -
Sua designação por parte da Alemanha foi uma surpresa, já que a maioria dos observadores previam que o apoio oficial viria de países africanos.
Os Estados-membros da OMS têm até 16h00 GMT (13h00 em Brasília) de amanhã (23) para nomear candidatos ao cargo de diretor-geral. Os nomes, contudo, não serão anunciados oficialmente antes do início de novembro.
Se houver mais de um candidato, um primeiro processo de seleção será aberto em janeiro de 2022 para estabelecer uma lista com o máximo de cinco nomes. Já a votação dos Estados-membros para escolher o próximo diretor-geral da OMS será durante a 75ª Assembleia Mundial da Saúde, programada para maio do ano que vem.
Por sua vez, o novo mandato de diretor-geral da OMS começará em 16 de agosto de 2022.
Após ficar em evidência pelo papel da OMS na luta contra a pandemia, Tedros foi classificado como uma das 100 personalidades mais influentes de 2020 pela revista Time, e foi agraciado com o prêmio "African of the Year" em 2020 pela publicação African Leadership Magazine.
A personalidade carismática do especialista etíope, que costuma chamar outras lideranças internacionais de "irmãos" ou "irmãs", contrasta com a frieza de sua antecessora, a chinesa Margaret Chan.
Contudo, e apesar de sua simpatia, Tedros provocou a fúria do ex-presidente americano Donald Trump, que cortou os recursos que os EUA destinavam à organização, e o acusou de ser muito próximo da China e de gerenciar mal a pandemia.
A chegada de Joe Biden à Casa Branca, por outro lado, trouxe os Estados Unidos de volta à OMS, o lhe deu um novo impulso.
Mas, com seu tom atual mais crítico em relação à China, ao considerar que o país asiático não tem sido suficientemente transparente em relação à origem da pandemia, passou a ter seu nome rejeitado pelo governo em Pequim.
Não obstante, Tedros conta com amplo apoio da comunidade internacional, graças à sua solidariedade inabalável com os países mais desfavorecidos.
"Posso soar como um disco arranhado, não me importo. Seguirei pressionando pela equidade (na distribuição) de vacinas até que esse objetivo seja atingido", frisou o diretor-geral da OMS em uma coletiva de imprensa realizada em meados de setembro.
audima