"Com as novas medidas, podemos desfrutar um pouco mais, sempre com cautela, tomando os devidos cuidados, com uso de máscara e mantendo a distância", contou à AFP a jovem estudante de medicina, de 22 anos.
Na noite de quinta-feira (23), e de forma surpreendente, as autoridades cubanas anunciaram a reabertura "gradual" de restaurantes, bares, cafeterias e comércios, assim como dos serviços de tribunais e cartórios em oito das 15 províncias do país.
A decisão tem como base o "processo de vacinação bem-sucedido" que está sendo realizado no país, segundo a ministra de Comércio Interior, Betsy Díaz, mas também a "necessidade de abertura e retomada econômica", admitiu o governador de Havana, Reynaldo García Zapata.
Segundos últimos dados divulgados na quinta, Cuba enfrenta um ressurgimento do surto e acumula 839.981 casos e 7.695 mortes de covid-19. O país, no entanto, já imunizou 42,8% de seus 11,2 milhões de habitantes com suas próprias vacinas contra o coronavírus.
- Da casquinha para a mesa -
Após 18 meses de pandemia, Cuba sofreu uma sequência de fechamentos e aberturas de seus serviços e espaços públicos. Contudo, a mais longa é a que estava vigente até agora, iniciada em 14 de janeiro, com toque de recolher incluído.
O "espetáculo" da reabertura ficou por conta da famosa sorveteria Coppelia, onde os clientes passaram a fazer longas filas para comprar casquinhas de sorvete "para viagem", e que passam a ser servidas nas mesas a partir desta sexta.
Para conseguir uma mesa, contudo, é preciso reservar por telefone, uma medida questionada por muitos, já que a Coppelia é um tradicional local de encontro improvisado pelos estudantes da Universidade de Havana e pelos frequentadores da principal avenida do centro da cidade, La Rampa.
Segundo as autoridades cubanas, os serviços autorizados a funcionar serão submetidos a uma inspeção sanitária prévia, deverão trabalhar com 50% de sua capacidade e, além disso, cumprir as medidas estritas de distanciamento social, com um espaço de dois metros entre mesas. Alpem disso, o uso de máscaras será obrigatório.
- 'Tudo aqui é mais difícil' -
No restaurante estatal "Mi Jardín", os funcionários limpam, fazem a arrumação e se preparam para a abertura. Eduardo Carbonel (49) - o maitre - explica aos trabalhadores como funcionará o centro, as medidas sanitárias e "os novos preços".
Cuba vive sua pior crise econômica desde 1993, com uma queda de 11% em 2020. Não há turistas e o governo de Joe Biden mantém pressão máxima com o embargo, continuando a política de seu antecessor Donald Trump.
Diante disso, o país se viu forçado a reduzir drasticamente as importações, agravando a escassez de alimentos e medicamentos. Ademais, uma reforma monetária desencadeou um processo inflacionário que prejudica ainda mais a economia familiar.
"Todo aqui é mais difícil pela situação do país, mas nós estamos tentando dar o máximo que podemos", afirmou Yurisbel Paneque (40), uma das responsáveis pelo restaurante privado Rey & Gaby.
"Estamos tentando por todos os meios, contratos que fizemos com empresas cubanas que nos proporcionam alguns dos produtos", contou.
- 'Já começou o movimento' -
Na próxima segunda-feira (27) entram em vigor as novas leis que obrigam micro, pequenas e médias empresas, públicas e privadas, a serem registradas e a contar com uma espécie de alvará de funcionamento.
No cartório 23 y J, o maior e mais popular de Havana, "já começou o movimento" de público, contou à AFP Alexis Sánchez, de 51 anos, administrador do estabelecimento.
"Aqui fazemos todos os serviços de cartório: testamento, procurações, compra e venda de imóveis, automóveis, declarações juramentadas", algo que ficou parado durante meses, comentou Sánchez.
No entanto, tudo é controlado: "Estamos tomando todas as medidas de distanciamento" e higiene, acrescentou.
A abertura de hoje é primeiro passo para a reabertura do país para turismo, prevista para 15 de novembro.
audima