A situação da Cidade Eterna, de 2,8 milhões de habitantes, uma das maiores capitais da Europa, agravou-se tanto que os javalis, atraídos pelo lixo nas ruas, circulam livremente em algumas áreas residenciais.
Para a revista Time Out dos Estados Unidos, Roma é a cidade mais suja do mundo, ao lado de Nova York e Bangcoc.
"O problema é que o sistema de lixo é baseado em aterros sanitários. Existem apenas dois, e um está prestes a fechar", explicou a atual prefeita, Virginia Raggi, em uma entrevista por escrito à AFP.
Em todas as partes da cidade, inclusive na área histórica, as latas de lixo fedorentas transbordam de dejetos, o que aumenta o desespero dos romanos.
Em Trastevere, um distrito turístico em pleno centro, repleto de bares e restaurantes, Tiziana De Silvestro, uma idosa, não esconde a irritação enquanto passeia com o cachorro.
"A cidade está cheia de animais, corvos e gaivotas, sem falar nos ratos e baratas", reclamou, em entrevista à AFPTV.
Cristiano Tancredi, da associação Retake Roma, não perde a esperança. "Há muitos jovens e organizações de voluntários que estão reagindo, que não querem viver em uma cidade tão suja", disse.
- Quatro candidatos na disputa -
Os quatro candidatos na disputa prometeram uma limpeza extraordinária da cidade imediatamente após a eleição, que deve ir para o segundo turno, marcado para 17 e 18 de outubro.
Além de Roma, outras cidades importantes definirão seus prefeitos, incluindo Milão, Nápoles, Bolonha e Turim.
Doze milhões de eleitores de um total de 50 milhões estão registrados para comparecer às urnas.
As eleições também representam um verdadeiro teste para o líder do partido de extrema-direita Liga, Matteo Salvini. Segundo as pesquisas, a sigla venceria as eleições legislativas, mas seus candidatos podem registrar resultados ruins nas eleições municipais.
A primeira mulher a ocupar a prefeitura de Roma, Virginia Raggi, do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5E), eleita em 2016, aspira a um novo mandato de cinco anos, mas seu partido caiu de 33% de apoio para atuais 16%.
Apesar de ter-se empenhado para superar, sem sucesso, os problemas estruturais da capital e de ter lutado com coragem contra as máfias locais, Raggi aparece em forte desvantagem.
Representante da política anticastas, símbolo de uma nova geração, Raggi, de 43 anos, não conseguiu resolver as graves deficiências da cidade nos transportes, na limpeza urbana e na gestão das empresas públicas, três dos grandes males de Roma.
Governar a capital da Itália virou algo praticamente impossível, sinônimo de desgaste.
O bloco de centro-direita apresenta um único candidato e tem boas chances de vitória, segundo as pesquisa mais recentes.
Trata-se de Enrico Michetti, candidato imposto pela líder de direita Giorgia Meloni, um locutor que trabalhava em uma rádio independente e comparou a covid-19 a uma gripe comum. Também propôs usar a saudação fascista para se despedir de forma segura durante a pandemia.
- Dois desafios: Jubileu 2025 e Exposição Universal 2030 -
O Partido Democrático (PD), de centro-esquerda e que por anos governou a cidade, tem como candidato Roberto Gualtieri, de 55 anos, ministro da Economia de 2019 a 2021, durante o governo de Giuseppe Conte após a aliança com o M5E.
Esta relação pode ser vital para o segundo turno e resultaria no retorno de um especialista para administrar dois eventos importantes: o Jubileu de 2025 e a Exposição Universal de 2030, que ainda não foi atribuída.
"É o evento que poderia mudar a cara da cidade, dar um futuro", afirma Raggi.
O quarto candidato, o centrista Carlo Calenda, do Partido Ação, afirma que é o único que tem capacidade de assumir o desafio de governar o ingovernável.
Com um programa detalhado de 2.000 páginas, o neto do cineasta Luigi Comencini, de 48 anos, ex-ministro do Desenvolvimento e eurodeputado, que pertence à burguesia romana, não teme assumir o que para muitos políticos representa um túmulo político.
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