A exposição extrema de pessoas-dias nos centros urbanos triplicou desde 1983, concluem os autores deste estudo, que a atribuem ao crescimento galopante da população nas cidades e às mudanças climáticas.
Publicado nas Atas da Academia Nacional de Ciências, o estudo destaca que nas cidades as temperaturas são, em geral, mais altas do que em áreas rurais, devido à falta de vegetação, à proliferação do cimento, asfalto e outras superfícies impermeáveis que concentram o calor no que denominam de "efeito térmico de ilha".
"Isto tem efeitos importantes", diz o principal autor do estudo, Cascade Tuholske, pesquisador do Instituto da Terra da Universidade de Columbia.
"Aumenta a morbidade e a mortalidade e impacta o rendimento das pessoas no trabalho e, por fim, reduz o aporte econômico", além de "agravar as doenças crônicas".
Os resultados na África e no Sudeste asiático, onde se concentram as maiores megalópoles, sugerem que a exposição a temperaturas extremas "pode limitar os benefícios econômicos da urbanização".
Apesar de os termômetros terem disparado nos últimos anos, chegando a alcançar temperaturas que beiram ou inclusive superam os 50º C em alguns lugares, os autores fixaram em 30ºC a denominada Wet Bulb Globe Temperature (WBGT) uma medida que leva em conta a temperatura, a umidade, o vento e a radiação solar e, a partir da qual o ser humano começa a enfrentar problemas.
"Um índice no qual inclusive as pessoas com melhor saúde acham difícil funcionar no exterior por muito tempo, e as que têm saúde debilitada podem piorar ou inclusive morrer", assegura o relatório.
Em 2016, 1,7 bilhão de pessoas viveram expostas ao calor intenso durante muitos dias, o triplo de 1983, concluem os autores, que analisaram as condições de mais de 13.000 cidades em todo o mundo entre 1983 e 2016.
- Inabitáveis? -
As cidades mais afetadas são as que se encontram em latitudes baixas, mas a mudança começou a afetar outras regiões.
Daca, a capital de Bangladesh, é a mais afetada pela combinação de calor extremo e população. Em menos de 38 anos passou de 4 milhões a 22 milhões de habitantes.
Outras cidades, a maioria na Ásia, têm a mesma sorte. Destacam-se as chinesas Xangai e Guangzhou; Yangun, a maior cidade de Mianmar; Bangcoc, Duvai, Hanói, Cartum (África), e várias cidades no Paquistão, na Índia e na Península Arábica.
Na América Latina, o México ocupa a 13ª posição devido ao aumento anual da exposição da população urbana a temperaturas extremas.
No entanto, por cidades, a venezuelana Maracaibo, na 41ª posição, é a única que está no top 50 das cidades com os piores índices de calor-população.
"Não quer dizer que outras cidades na região não tenham experimentado importantes aumentos de exposição: elas o sofreram e está claro", diz Tuholske à AFP.
Segundo os pesquisadores, em torno de 17% das cidades estudadas aumentaram em um mês inteiro os dias que sofrem com altas temperaturas nos 33 dias estudados.
"Existe um modelo de lugares onde gostaríamos de estar", assegura Tuholske antes de advertir que "agora estas áreas talvez se tornem inabitáveis".
"Realmente, todas as pessoas vão querer viver ali?", pergunta-se.
O estudo não inclui as ondas de calor que castigaram no verão passado vários pontos do planeta e mataram centenas de pessoas.
Embora não seja o primeiro estudo a advertir sobre o calor excessivo nas cidades, este oferece uma foto das pessoas afetadas em cada localidade e o grau de exposição.
Segundo os autores, esta informação poderia ajudar as autoridades a propor estratégias mais enfocadas para ajudar os cidadãos.
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