"O tribunal suspendeu a ordem de detenção e deixou a acusada em liberdade, sob a condição de medidas de precaução", afirmou a porta-voz do tribunal de Itzehoe (norte), Frederike Milhoffer, sem revelar a natureza das medidas.
Irmgard Furchner, que no momento dos crimes atribuídos a ela tinha entre 18 e 19 anos, será a primeira mulher envolvida com o nazismo a ser julgada em várias décadas no país e deve responder por cumplicidade no assassinato de mais de 10.000 pessoas.
A idosa fugiu na quinta-feira passada, antes da abertura do julgamento, mas foi detida poucas horas depois.
A Alemanha, que por muito tempo relutou em procurar seus criminosos de guerra, nunca havia julgado ex-nazistas tão idosos.
Antes do início do julgamento, a acusada havia informado à Justiça sua intenção de fuga, em uma carta enviada há poucas semanas ao presidente do tribunal, segundo a revista Der Spiegel.
Na carta, ela garantiu que "boicotaria o processo, (...) já que seria degradante para ela se participasse dele", explicou à AFP o advogado Christoph Rückel, que representa legalmente os sobreviventes da Shoah.
- Poucas mulheres julgadas -
A Promotoria acusa a nonagenária de ter participado do assassinato de detidos no campo de concentração de Stutthof, na atual Polônia, onde trabalhou como datilógrafa e secretária do comandante do campo, Paul Werner Hoppe, entre junho de 1943 e abril de 1945.
Cerca de 65.000 pessoas morreram neste campo, próximo da cidade de Gdansk, incluindo "prisioneiros judeus, guerrilheiros poloneses e prisioneiros de guerra soviéticos", segundo a Promotoria.
Segundo Rückel, "ela foi responsável por toda correspondência do comandante do campo".
"Também digitou as ordens de execução e de deportação e colocou suas iniciais", declarou o advogado à emissora regional pública NDR.
Após um longo procedimento, a Justiça considerou em fevereiro que a idosa estava apta para comparecer a julgamento, apesar da idade avançada. As audiências deveriam durar apenas poucas horas a cada dia.
Passados 76 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, a Justiça alemã continua procurando ex-criminosos nazistas ainda vivos.
Diferentes promotores alemães estão examinando, atualmente, oito casos que envolvem, em particular, ex-funcionários dos campos de Buchenwald e Ravensbrück, informou à AFP o Escritório Central para o Esclarecimento de Crimes do Nacional-Socialismo.
Nos últimos anos, vários processos foram abandonados pela morte dos suspeitos, ou por sua incapacidade física de comparecer aos tribunais.
Apesar de a Alemanha ter condenado na última década quatro ex-guardas ou funcionários dos campos nazistas de Sobibor, Auschwitz e Stutthof, o país julgou poucas mulheres envolvidas com o regime nazista, relatam historiadores.
A Justiça examinou os casos de pelo menos três funcionárias de campos nazistas. Entre eles, estava o de outra secretária que trabalhava em Stutthof, mas ela faleceu no ano passado, antes da conclusão do processo.
Quase 4.000 mulheres trabalharam como guardas nos campos de concentração, segundo os historiadores, mas poucas foram julgadas após a guerra.
audima