Jornal Estado de Minas

ROMA

Nobel de Física a italiano homenageia 'rapazes da Via Panisperna'

Com a atribuição, nesta terça-feira (5), do prêmio Nobel de Física 2021 ao italiano Giorgio Parisi, especialista na desordem dos sistemas complexos, o mundo científico premiou também a prestigiosa escola romana de física, surgida há quase um século com os "rapazes de Via Panisperna".



"Este prêmio é muito importante para a física italiana porque muitos físicos italianos o mereciam e não conseguiram. Além disso, é importante que se premie um físico que trabalha na Itália", declarou à imprensa Parisi, ao entrar na prestigiosa Academia Nacional dos Linces, em Roma, a academia de ciências italiana, horas depois de saber da notícia.

Parisi, de 73 anos, foi também presidente entre 2018 e 2021 desta academia, uma das instituições mais antigas do mundo, fundada em 1603 e da qual fez parte Galileu Galilei.

A referência feita pelo prestigioso cientista a seus colegas italianos é um reconhecimento indireto ao grupo de jovens pesquisadores liderados por Enrico Fermi, que em 1934 realizaram, na rua de Panisperna, no centro de Roma, a famosa descoberta dos nêutrons lentos, que abriu as portas para a construção do reator nuclear e, posteriormente, da bomba atômica.

Além de Fermi, que obteve o Nobel em 1938, os outros membros do grupo eram: Edoardo Amaldi, Ettore Majorana, Bruno Pontecorvo, Franco Rasetti e Emilio Segre.

Em 1938, devido às leis raciais contra os judeus, proclamadas durante o fascismo e ante a iminência da Segunda Guerra Mundial, o grupo foi dissolvido e a maior parte dos seus membros emigrou.



A história foi contada em um filme de Gianni Amelio em 1989, que conta o entusiasmo, mas também os temores diante de uma das grandes descobertas no campo da física nuclear.

- Mais recursos para a pesquisa -

O medo de que as descobertas terminassem em mãos erradas para se transformar em poderosas armas de destruição, foi mais decisivo do que o amor pela física, que os tinha unido tanto, e finalmente quase todos "os rapazes" seguiram caminhos diferentes.

"Giorgio Parisi faz parte da escola de física romana, cujo nível sempre foi muito alto, e que contou com personalidades como Fermi, Pontecorvo, Majorana e que continuou desenvolvendo-se depois da Segunda Guerra Mundial, graças a físicos muito importantes", explicou à AFP Marco D'Eramo, que estudou com Parisi na Universidade La Sapienza de Roma.

O novo Nobel italiano aproveitou a ocasião para pedir mais recursos à pesquisa científica na Itália e se pronunciou sobre as mudanças climáticas, um dos temas abordados em suas pesquisas, pois estuda o que denominou de "fenômenos novos".

"O futuro se constrói com a pesquisa científica", destacou Parisi nesta terça-feira.

"Acho que o prêmio é importante não só para mim, mas também para os outros dois contemplados porque as mudanças climáticas são uma grande ameaça para a humanidade e é extremamente importante que os governos ajam com determinação o mais rapidamente possível", acrescentou.

Parisi foi premiado junto com dois especialistas na modelagem física das mudanças climáticas, o nipo-americano Syukuro Manabe e o alemão Klaus Hasselmann.

Além de Parisi, ganharam o Nobel de Física os italianos Enrico Marconi (1908), Emilio Segre (1959), Carlo Rubbia (1984) e Riccardo Giacconi (2002).



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