"Devemos fazer mais", principalmente na internet, disse o primeiro-ministro sueco, o social-democrata Stefan Löfven, que fez da luta contra o ódio antissemita seu último combate na cena internacional. "Temos necessidade de uma nova atmosfera nas redes sociais", acrescentou.
A cidade sueca recebeu o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, representantes da ONU e de 40 países, convidados pelo primeiro-ministro sueco. Além disso, vários líderes mundiais estrangeiros intervieram por vídeo.
Malmö, uma cidade multicultural no sul do país, tenta conter uma onda de antissemitismo que surgiu no início dos anos 2000.
"Não podemos apenas lembrar, devemos falar abertamente e lutar pela humanidade", declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em um vídeo.
"Lembrar o Holocausto, lutar contra o antissemitismo não são atividades passivas. Elas exigem um compromisso", declarou o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Anthony Blinken, também em vídeo.
Na semana passada, a União Europeia apresentou sua primeira estratégia de combate ao antissemitismo diante de um "aumento preocupante" dessas atitudes e nela dedica um capítulo importante ao ódio na internet.
"Recordar não basta. Os últimos sobreviventes da Shoah estão nos deixando, mas o antissemitismo perdura. Está de novo em alta. Por isso que devemos fazer algo mais que recordar. Devemos agir", afirmou Charles Michel.
- "Vamos usar gás nela" -
De acordo com a agência de direitos fundamentais da União Europeia, nove em cada dez judeus consideram que o ódio contra eles aumentou em seus países e 38% consideraram emigrar porque não se sentem mais seguros.
Por sua vez, Ronald Lauder, presidente do Congresso Mundial Judaico, afirmou na tribuna que "o que aprenderam, aprenderam na internet, nas redes sociais. O que veem hoje nas redes sociais é ódio".
De acordo com uma análise publicada na quarta-feira pela associação britânica Hope not Hate, a alemã Amadeu Antonio Foundation e o grupo sueco Expo Foundation, plataformas como Instagram e TikTok estão sendo usadas para espalhar conteúdo antissemita entre seus usuários, em sua maioria jovens.
As declarações antissemitas "se propagam em todas as redes sociais", apesar dos esforços para combatê-lo, alerta o estudo, segundo o qual os discursos mais extremos são encontrados em plataformas especializadas como Parler e 4chan, embora outras maiores e generalistas, como Instagram e TikTok sejam usadas para introduzir teorias da conspiração antissemitas na população mais jovem.
No Instagram, onde 70% dos usuários têm entre entre 13 e 34 anos, são encontradas "milhões" de hashtags vinculados ao antissemitismo.
No TikTok, com usuários mais jovens - 69% têm entre 16 e 24 anos - três hashtags vinculadas ao antissemitismo foram vistas mais de 25 milhões de vezes em seis meses.
"Uma nova geração de usuários das redes sociais têm tido contato com ideias antissemitas, às quais não teria sido exposta de outra forma", destaca Joe Mulhall, encarregado do Hope Not Hate.
O informe destaca que muitas plataformas fracassaram em encontrar uma solução para este problema, apesar de dispor dos meios para agir.
A este respeito, Johanna Gosenius, uma jovem de 18 anos da Suécia, explicou à AFP que foi vítima de cyberbullying.
"Há uma conta no Instagram onde os jovens da minha cidade postam muitas coisas antissemitas, mas também coisas dirigidas contra mim em um site chamado Ask e que podem ser feitas publicações anônimas", disse.
Como o gigante americano Google, que anunciou que vai destinar 5 milhões de euros (5,7 milhões de dólares) à luta contra o antissemitismo online, outros nomes da rede explicaram os esforços que fazem nesta área.
"Estamos constantemente lançando novas tecnologias para fazer frente a essa ameaça crescente", disse o chefe do YouTube para a Europa, Pedro Pina, à AFP. "Com o tempo, os criminosos se tornam mais hábeis em usar a plataforma e abusar de nossas políticas (...) e encontram novas maneiras de se infiltrar".
Somente no segundo trimestre de 2021, a plataforma removeu 6,2 milhões de vídeos ofensivos.
Na Suécia, as denúncias por crimes de ódio a judeus aumentaram mais de 50% entre 2016 e 2018, passando de 182 a 278, e representam 6% das denúncias por racismo do país, segundo as estatísticas oficiais.
Em Malmö, embora a situação pareça estar melhorando, vários moradores de confissão judaica explicaram à AFP que foram insultados por causa de sua religião.
"Alguns fazem a saudação nazista quando veem minha estrela de David, ou riem porque sou judia", afirmou Mira Kelber, moradora de Malmö.
"Uma vez, uma garota me disse: 'Ela é judia. Vamos usar gás nela!'", acrescentou a jovem de 21 anos, filha de um sobrevivente do Holocausto.
Stefan Löfven, que deixará o cargo em novembro, fez da luta contra o antissemitismo uma de suas últimas batalhas e prometeu proteger melhor os 15.000-20.000 judeus suecos.
audima