Jornal Estado de Minas

CARTUM

Segundo dia de protesto no Sudão para exigir um governo militar

Centenas de sudaneses acampavam neste domingo (17), pelo segundo dia consecutivo, em Cartum para exigirem um governo militar, o que representa uma "crise perigosa", disse o primeiro-ministro Abdallah Hamdok, no processo de transição pós-ditadura.



Para os defensores de um governo civil, esse protesto representa um "golpe de Estado" iminente, em um país que já sofreu vários.

Mas os manifestantes contra o governo de Hamdok, que instalaram suas barracas no sábado à noite em frente ao palácio presidencial em Cartum, não dão o braço a torcer.

As forças de segurança, localizadas nas portas do palácio, não impediram o acampamento, quando há uma semana proibiram que uma manifestação de advogados se aproximasse do local.

"O protesto continua, não iremos embora até que o governo seja destituído", afirmou à AFP Ali Askouri, um dos organizadores. "Pedimos oficialmente ao conselho soberano", o órgão militar e civil que dirige a transição, "que não negocie mais com este governo", acrescentou.

As cenas lembravam as manifestações que acabaram com os 30 anos de mandato do ex-presidente Omar al Bashir em 2019.

Desde a queda do autocrata sudanês, os militares e os civis formaram um conselho soberano e um governo que deveria levar o país às eleições, mas que adia constantemente os prazos. A última data marcada é para o final de 2023.



No sábado, os manifestantes foram até o palácio presidencial, onde está a sede das autoridades de transição, aos gritos de "um exército, um povo" e exigindo um "governo militar" para retirar o Sudão do bloqueio político e econômico.

A mobilização foi convocada por uma facção sediciosa das Forças pela Liberdade e Mudança (FLC, coalizão civil da "revolução") liderada por dois ex-líderes rebeldes.

O primeiro-ministro Abdallah Hamdok, debilitado por uma tentativa de golpe em 21 de setembro, alerta que essas "profundas divisões" são a "crise mais perigosa" para a transição e que ameaçam o caminho para a democracia.

O anúncio de um protesto indefinido faz temer o ressurgimento da situação, já que as FLC convocaram uma manifestação rival para quinta-feira para exigir a transferência completa dos poderes aos civis.

Os organizadores do protesto pró-militares em frente ao palácio presidencial pediram neste domingo que seus apoiadores saiam em grande número às ruas na mesma quinta-feira, em rejeição a um "golpe militar e a uma ditadura dos civis".

Essas tensões fragilizam ainda mais a transição.

Em 21 de setembro, um golpe de Estado foi frustrado em Cartum e, desde 17 do mesmo mês, manifestantes bloqueiam o maior porto do país, na região de Port Sudan (leste).

A inflação galopante supera 300%, o alto custo de vida e a escassez de infraestruturas são as princiapis causas da indignação neste país, rico em ouro e recursos agrícolas. Dois anos depois da posse do governo de Hamdok, a situação econômica continua terrível.



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