De origem humilde ao posto de primeiro secretário de Estado afro-americano dos Estados Unidos.
Essa foi a trajetória de Colin Powell, morto aos 84 anos de complicações de covid-19, segundo informou sua família nesta segunda-feira (18/10) por meio de um comunicado.
Um oficial do exército altamente condecorado, ele serviu no Vietnã, uma experiência que mais tarde ajudou a definir suas próprias estratégias militares e políticas.
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Powell se tornou um conselheiro militar de confiança de vários líderes políticos dos EUA. E, apesar de suas próprias dúvidas, ajudou a moldar a opinião internacional por trás da invasão do Iraque em 2003.
Colin Luther Powell nasceu no Harlem, na cidade de Nova York, em 5 de abril de 1937, filho de imigrantes jamaicanos.
Seus pais pronunciavam seu nome originalmente com um "o" curto no estilo tradicional inglês, mas ele mudou a pronúncia em homenagem a um piloto do Corpo de Aviação do Exército dos EUA, Colin Kelly, que foi morto pouco depois do ataque japonês à base de Pearl Harbor durante a 2ª Guerra Mundial.
Powell era, como ele mesmo admitiu, um estudante mediano que não tinha nenhum plano de carreira quando saiu do ensino médio.
Enquanto estudava geologia no City College de Nova York, ele se juntou ao Reserve Officers Training Corps (ROTC), um programa desenvolvido para identificar futuros líderes militares.
Powell mais tarde descreveu isso como uma das experiências mais felizes de sua vida. "Eu não só não gostei", disse ele mais tarde, "como também era muito bom naquilo."
Após a formatur,a em 1958, ele foi nomeado segundo-tenente do Exército dos Estados Unidos. Em seguida, passou pelo treinamento básico na Geórgia, onde, por causa de sua cor, chegou a ter entrada proibida em bares e restaurantes.
Em 1962, ele foi um dos milhares de conselheiros enviados ao Vietnã do Sul pelo então presidente americano John Kennedy para fortalecer o exército local contra a ameaça comunista do Norte.
Durante a temporada no país, Powell foi ferido ao pisar em um bastão de punji, uma estaca de madeira afiada escondida no chão e usada como armadilha.
Prestigiado
Em 1968, ele retornou ao Vietnã, recebendo uma condecoração por bravura após sobreviver a um acidente de helicóptero no qual resgatou três outros soldados dos destroços em chamas.
Ele foi designado para investigar uma carta de um soldado na ativa que reforçava as alegações de um massacre em My Lai em março de 1968, no qual militares americanos mataram centenas de civis, incluindo crianças.
A conclusão de Powell, de que "em refutação direta a esse relato, as relações entre os soldados americanos e o povo vietnamita são excelentes", se chocou com a crescente evidência de tratamento brutal de civis pelas forças dos EUA.
Mais tarde, ele foi acusado de "encobrir" o massacre, cujos detalhes só se tornaram públicos em 1970.
Depois de retornar do Vietnã, Powell cursou um MBA na Universidade de Georgetown em Washington antes de obter uma prestigiosa bolsa de estudos na Casa Branca durante o governo do presidente Richard Nixon.
Powell passou a ser visto como uma estrela em ascensão. Foi tenente-coronel na Coreia do Sul antes de trabalhar no Pentágono como oficial de estado-maior.
Depois de um período em uma faculdade do Exército, ele foi promovido a brigadeiro-general e comandou a 101ª Divisão Aerotransportada antes de assumir um papel consultivo no governo.
Também fez parte por um tempo do governo de Jimmy Carter e depois se tornou assessor militar sênior de Caspar Weinberger, o secretário de Estado da Defesa nomeado pelo então presidente recém-eleito, Ronald Reagan.
Determinado
Em 1987, Powell tornou-se conselheiro de segurança nacional. Foi a época do envolvimento dos Estados Unidos nas chamadas "guerras sujas" na América do Sul, incluindo o apoio aos contras, os paramilitares de direita na Nicarágua.
Quando George HW Bush assumiu o cargo, em 1989, Powell foi nomeado presidente da Junta de Chefes de Estado-Maior, a mais alta posição militar no Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
Aos 52 anos, se tornou o oficial mais jovem a ocupar o cargo e o primeiro de origem afro-americana.
Já nos primeiros meses no cargo, ele enfrentou uma crise quando os Estados Unidos invadiram o Panamá, em dezembro de 1989, derrubando o ditador, general Noriega, um movimento fortemente condenado pelas Nações Unidas.
A Guerra do Golfo de 1990 viu a implementação de uma estratégia que foi apelidada de A Doutrina Powell. Essencialmente, Powell acreditava que os EUA não deveriam recorrer à força militar até que todos os meios diplomáticos, políticos ou econômicos fossem esgotados.
No entanto, caso houvesse uma decisão pela ação militar, a força máxima necessária deveria ser empregada para subjugar o inimigo rapidamente, minimizando as baixas dos EUA. Seria também necessário um apoio público considerável.
Muito desse pensamento estava enraizado na determinação de que os EUA não mais se veriam atolados em um conflito longo e infrutífero como o do Vietnã.
Powell inicialmente se opôs ao uso da força no Golfo, contra a vontade do então secretário de Defesa, Dick Cheney. No entanto, as operações Tempestade no Deserto e Escudo do Deserto foram um sucesso, e o nome de Powell se tornou conhecido ao redor do mundo.
Powell permaneceu como presidente da Junta de Chefes de Estado-Maior durante os primeiros meses da nova Presidência de Clinton, mas achou difícil trabalhar ao lado de uma administração mais liberal.
Carreira política
Ele entrou em conflito com o novo presidente sobre a questão de permitir que gays ingressassem no Exército e teve um desacordo público com Madeleine Albright, então embaixadora dos EUA na ONU, sobre a intervenção militar na Bósnia.
Powell acreditava firmemente que apenas uma ameaça aos interesses dos EUA justificava uma resposta militar.
"Os soldados americanos não são soldados de brinquedo que precisam ser movidos em algum tabuleiro de jogo global", disse ele.
Powell deixou o Exército em 1993 e se dedicou a escrever sua autobiografia — que liderou a lista de best-sellers do New York Times — e se engajou em trabalhos de caridade.
Livre de suas obrigações como oficial na ativa, ele começou a se envolver na política. Com admiradores em ambos os partidos principais, foi apontado como candidato à vice-presidência tanto para democratas quanto para republicanos antes de se declarar a favor dos últimos em 1995.
Boatos correram que ele enfrentaria Bill Clinton na eleição presidencial de 1996, mas Powell decidiu que lhe faltava paixão por uma carreira política.
Em 2000, George W. Bush nomeou Powell como secretário de Estado (equivalente ao Ministro das Relações Exteriores no Brasil).
Após os ataques de 11 de Setembro, Powell se viu confrontado por personalidades como o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, que defendia a intervenção dos Estados Unidos, mesmo sem o apoio de outras nações, no que ficou conhecido como a "guerra ao terror".
Powell, mantendo sua própria doutrina, se opôs ao envolvimento dos EUA no Iraque, mas, em uma reviravolta, concordou em apoiar a invasão do país.
Sua reputação de homem íntegro certamente ajudou a persuadir as Nações Unidas da causa da guerra quando ele compareceu perante o Conselho de Segurança do órgão, em 2003.
Apenas 18 meses depois, com a queda de Saddam Hussein, Powell admitiu que as informações de inteligência sugerindo que o ditador iraquiano possuía "armas de destruição em massa" estavam quase certamente equivocadas.
Pouco depois, anunciou sua renúncia ao cargo de secretário de Estado.
Powell permaneceu franco em questões políticas, criticando o governo Bush em muitas frentes, incluindo o tratamento dado aos detidos na Baía de Guantánamo, em Cuba. Em 2008, Powell apoiou Barack Obama para a Presidência dos Estados Unidos.
O fato de ter angariado aliados em ambos os lados do espectro político dizia muito sobre suas habilidades diplomáticas.
Um homem cordial, era reverenciado no Departamento de Estado, onde era conhecido por ser cortês e descontraído a despeito do alto cargo que ocupava.
Sua grande força era a crença de que a coalizão era preferível ao confronto. Sua rejeição à estratégia de intervenção unilateral de Rumsfeld permitiu aos EUA construir uma aliança mundial na guerra contra o terrorismo.
"A guerra deve ser a política de último recurso", disse ele certa vez. "E, quando formos para a guerra, devemos ter um propósito que nosso povo entenda e apoie."
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