Os países da UE apresentarão na COP26 sua meta de reduzir em 55% as emissões de gases de efeito estufa até 2030 com relação a 1990.
Para isso, a Comissão Europeia espera poder ampliar seu atual Regime de Comércio de Direitos de Emissão (RCDE).
Estabelecido em 2005, este mercado de carbono cobre atualmente 40% das emissões europeias: produtores de eletricidade e indústrias que utilizam muita energia (como a metalúrgica, de cimento e produtos químicos), que devem adquirir direitos para poluir.
A intenção da Comissão Europeia é incluir no RDCE as empresas de transporte marítimo, e criar um sistema adicional para o transporte rodoviário e os sistemas de calefação de edifícios residenciais.
Atualmente, as empresas podem comprar e revender esses direitos no RCDE, onde o preço por tonelada de CO2 superou recentemente os 60 euros pela primeira vez, dobrando a sua cotação no espaço de um ano.
Esta é a razão pela qual o líder húngaro Viktor Orban responsabiliza a UE, em geral, e o RCDE, em particular, pelo aumento nos preços da eletricidade.
"Apenas um quinto deste aumento é atribuível ao mercado de carbono, o resto provém da escassez de gás', afirmou no Parlamento Europeu o holandês Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia.
De acordo com a UE, o aumento no preço das licenças através do RCDE permitiu que os 27 países do bloco obtivessem 11 bilhões de euros adicionais entre janeiro e agosto, que podem ser utilizados para amortizar o impacto do aumento da energia.
Contudo, a situação econômica parece fragilizar o projeto, apresentado em meados de julho.
Os fornecedores de combustíveis e diesel para calefação deveriam comprar direitos de emissão em um novo mercado de carbono a partir de 2025, mas existe o risco de eles repassarem os custos adicionais aos consumidores.
- 'Preocupações profundas' -
Isso acendeu de imediato as luzes de alerta, tanto nos países do bloco - que devem administrar a crescente insatisfação dos consumidores - como no Parlamento Europeu.
"A criação de um novo mercado de carbono gera preocupações profundas, porque há risco de aumentar os custos para os lares", advertiu a ministra de Transição Ecológica da França, Barbara Pompili.
Por sua vez, a ministra espanhola Teresa Riberta alertou que a "especulação está aumentando" de forma visível no mercado de carbono.
Para Pascal Canfin, presidente da Comissão de Meio Ambiente do Parlamento Europeu, "estamos entrando em um nível de preços [para o CO2] que tornará as tecnologias livres de carbono muito mais rentáveis".
No entanto, ele critica a ampliação do mercado para os combustíveis usados nos transportes e edifícios.
"É muito regressivo em nível social [...] estamos trabalhando em uma recalibragem para não penalizar as famílias", disse.
Entre outras opções, os eurodeputados estão considerando estender o RCDE somente para caminhões e imóveis comerciais.
Timmermans, por outro lado, responde que o fantasma dos protestos pelo aumento da energia é "utilizado por aqueles que têm interesses precisos a defender".
Bruxelas propõe a criação de um fundo social, avaliado em cerca de 70 bilhões de euros, durante sete anos e alimentado pelas receitas do mercado de carbono, para limitar o impacto social.
Também deseja submeter algumas importações (aço, alumínio, cimento, eletricidade) às regras do RCDE europeu, com a imposição de "certificados de emissões" calculados a partir do preço do CO2 na UE.
BRUXELAS