Antes de sua prisão neste sábado (23), havia duas recompensas sendo oferecidas pela cabeça do narcotraficante Dairo Antonio Úsuga David, conhecido como Otoniel. O governo dos Estados Unidos oferecia US$ 5 milhões por informações que levassem à sua captura. E governo da Colômbia oferecia cerca de US$ 800 mil.
Otoniel, de 50 anos, foi detido no município de Necoclí, no noroeste da Colômbia, em uma operação conjunta da qual participaram mais de 300 soldados do Exército, Força Aérea e Polícia Federal da Colômbia, transportados em mais de vinte helicópteros.
"É o golpe mais duro que já foi infligido ao narcotráfico neste século em nosso país. Esse golpe só é comparável à queda de Pablo Escobar nos anos 1990", disse o presidente da Colômbia, Iván Duque, comemorando a notícia.
Escobar (1947-1993), lendário chefe do cartel de Medellín, foi de longe o traficante de drogas mais famoso do mundo. Mas a comparação não parece exagerada, pelo menos do ponto de vista do esforço feito pelo governo colombiano para capturar Otoniel.
Em 2015, as autoridades colombianas já tinham feito uma tentativa de captura Otoniel com cerca de 1.200 soldados, pertencentes aos grupos de elite mais bem preparados do país - isso é mais do que o dobro dos 500 que rastreavam Escobar nos anos 1990.
O ministro da Defesa colombiano, Diego Molano, disse neste sábado que o "Clã del Golfo" - uma organização criminosa paramilitar de extrema-direita -, se tornou "a maior ameaça" nos últimos anos porque "a maior quantidade de toneladas de coca que a Colômbia enviou para os mercados dos Estados Unidos e para a Europa foi administrada" por esta organização criminosa.
Segundo a imprensa colombiana, Otoniel também era procurado pela Interpol por diversos homicídios, sequestros, formação de quadrilha e outros crimes. Ele é réu em mais de 120 processos judiciais na colômbia.
Uma história de violência
Otoniel nasceu em Antioquia no início dos anos 70. Aos 16 anos ingressou na extinta guerrilha Exército de Libertação Popular (EPL) com seu irmão Juan de Dios Úsuga David, o "Giovanni".
Mais tarde, ingressou nas FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colombia) e depois em outro grupo no extremo posto do espectro político, o grupo paramilitar Autodefesas Unidas da Colômbia.
Em 2005, o grupo se desmobilizou, largando as armas. Os irmãos então se juntaram ao chefe do narcotráfico Daniel Rendón Herrera, conhecido como "Don Mario". Quando Don Mario foi capturado em 2009, Otoniel e Giovanni ficaram no comando da organização.
Otoniel se tornou o líder máximo quando seu irmão foi morto pela Polícia Nacional durante uma batida em uma festa de fim de ano, em 1º de janeiro de 2012.
Cartel "familiar"
Considerado um grande cartel, o Clã del Golfo era inicialmente conhecido como Urabeños, pela região de Urabá onde opera. Mas o grupo tinha braços em grande parte do país e em outros países - membros do grupo foram capturados no Brasil, na Argentina, no Peru, na Espanha e em Honduras.
O núcleo de poder do cartel é composto não só por Otoniel e Giovanni, mas também vários primos e outros parentes próximos dos dois.
Por exemplo, Francisco José Morelo Peñata, conhecido pelo apelido de "El Negro Sarley", teve um relacionamento amoroso com uma das irmãs de Otoniel, segundo a polícia, e se tornou o segundo na organização após a morte de Giovanni. Peñata foi morto em uma operação policial em abril de 2013.
O responsável pelas finanças do grupo era a namorada de Otoniel, Blanca Senobia Madrid Benjumea, a "La Flaca", que foi capturada em 2015. E quem fazia o contato com cartéis mexicanos e coordenava o narcotráfico para a América Central era o sobrinho de Otoniel, Harlison Úsuga, o "Pedro Arias" , também preso em 2015.
Em agosto de 2020, o governo colombiano autorizou a extradição para os Estados Unidos de Alexander Montoya Úsuga, conhecido como 'El Flaco', primo de Otoniel que havia sido capturado em 2012 em Honduras.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos descreveu o Clã del Golfo como "uma das organizações transnacionais do crime organizado mais importantes" entre as ameaças ao país.
Por outro lado, desde os tempos em que eram conhecidos como Urabeños, o Clã del Golfo distribuía panfletos que se autodenominavam Autodefensas Gaitanistas da Colômbia, o que é considerado pela imprensa colombiana um estratagema para ocultar seus verdadeiros objetivos.
Fuga constante
Os fortes laços familiares do grupo e sua firme implantação em uma área da Colômbia muito conhecida pelo cartel são alguns dos motivos que dificultaram a captura de Otoniel pelas autoridades.
A família é nativa da região de Urabá e sabe como administrar suas terras e ter poder sobre a população local.
Após a morte de Giovanni, o cartel decretou um ataque armado que deixou a região estagnada por alguns dias.
Otoniel também tinha vários truques para escapar da polícia. Entre eles estava o uso de cães treinados para alertar quando algum estranho se aproximava, dando tempo de fuga ao fugitivo.
Em uma dessas fugas, Otoniel teve que deixar para trás um dos cachorros, que foi adotado pela polícia em batizado de Oto. O cão foi então treinado e usado em uma operação de 2015 para ajudar a procurar seu antigo dono, cujo cheiro ele já conhecia.
Segundo a imprensa colombiana, Otoniel não utilizava celulares para evitar o rastreamento. Ele se comunicava com os integrantes de sua organização enviando mensagens de voz que eram distribuídas em gravadores e pen drives ou por e-mail.
O medo de ser capturado também o levava a mudar constantemente o local onde passava as noites, geralmente na selva e, frequentemente, em cabanas de madeira.
Essas casas rurais contrastavam fortemente com as televisões de tela grande, bebidas caras e perfumes sofisticados que as autoridades costumavam encontrar nos locais onde ele morava. Outra característica distintiva de seus esconderijos eram os caros colchões especiais que ajudavam a aliviar o desconforto de uma hérnia de disco.
*com informações da agência Reuters
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