Centenas de policiais e militares foram enviados neste domingo (24/10) a El Estor, povoado indígena do Nordeste da Guatemala, onde o governo declarou estado de sítio, um dia depois de a polícia dissolver um protesto contra uma mineradora suíça que deixou quatro agentes baleados.
As forças de segurança - cerca de 500 soldados e 350 policiais - abriram caminho em caminhões, patrulhas e blindados pelas ruas do povoado maia q'eqchi', situado 315km a nordeste da capital por estrada - quase sete horas de viagem.
Alguns moradores deste município de 76.000 habitantes só observaram, tentando levar a vida normalmente. Alguns nadavam nas águas do lago de Izabal, vizinho ao povoado.
A ordem do presidente Alejandro Giammattei, vigente por 30 dias, limita o direito à manifestação, permite às forças de segurança a realizar detenções sem ordens judiciais, estabelece toque de recolher entre as 18h e as 06h, assim como outras restrições, detalhou o decreto publicado no diário oficial.
"No município de El Estor (...), diversos habitantes e grupos armados executaram uma série de ações que se enquadram em indícios fundamentados de atos violentos e ataques às forças de segurança", segundo o texto.
O estado de sítio deve ser ratificado nos próximos dias pelo Congresso para não perder sua vigência.
No sábado (23/10), policiais liberaram uma rodovia, onde um grupo de indígenas tinha se colocado desde 4 de outubro "em resistência" para denunciar que a Companhia Guatemalteca de Níquel, subsidiária da empresa suíça Solway Investment Group, mantém operações apesar de a Justiça ter determinado sua suspensão enquanto o governo faz uma consulta popular.
O grupo, que se opõe à mineradora por considerar que causa danos ambientais, também denunciava que o Ministério de Minas e Energia não os tinha levado em conta no processo que levará ao referendo.
Na operação, quatro militares foram feridos a bala nas pernas, segundo um boletim da polícia. Vários moradores foram afetados por bombas de gás lacrimogêneo disparadas pela tropa de choque, segundo a imprensa local.
"Este estado de sítio vigora apenas para privilegiar e assegurar o trabalho de mineração", disse à AFP Abelino Chub, um dos líderes indígenas contrários à exploração mineradora em El Estor e que atribuiu o ataque aos policiais a "infiltrados" no movimento.
Chub considerou que a limitação dos direitos civis visa a assustar a população, contrária à empresa mineradora e alertou para o recrudescimento da perseguição e a criminalização dos dirigentes das organizações comunitárias contrárias à empresa.