Jornal Estado de Minas

MUNIQUE

Dez anos de prisão para alemã do EI acusada de deixar criança yazidi morrer de sede

Um tribunal de Munique condenou a 10 anos de prisão, nesta segunda-feira (25), uma alemã que integrou o grupo extremista Estado Islâmico (EI), acusada de deixar uma menina yazidi transformada em escrava no Iraque morrer de sede.



Jennifer Wenisch, de 30 anos, foi declarada culpada de "crime contra a humanidade que causou morte" e pertencimento a uma organização terrorista, em um dos primeiros julgamentos no mundo sobre os crime de guerra contra os yazidis, uma minoria perseguida pelos extremistas.

Ela ficou impassível ao ouvir sua sentença, mais branda que a prisão perpértua exigida pela Promotoria.

"Tinha que saber desde o princípio que um menino acorrentado sob um sol escaldante corria o risco de morrer", disse nesta segunda-feira o presidente do tribunal, Reinhold Baier.

Contudo, os juízes reconheceram que a ex-extremista "possuía possibilidades limitadas para acabar com a subjugação das vítimas", segundo um comunicado do tribunal.

Esta alemã natural de Lohne, na Baixa Saxônia (noroeste), viajou ao Iraque para se reunir com "os irmãos", explicou a ré durante o julgamento iniciado em abril de 2019.



Durante vários meses, ela integrou a polícia de Fallujah e Mossul, onde participava da patrulha armada. Esta força de segurança controlava, sobretudo, o respeito às regras de vestimentas e comportamentos estabelecidas pelos extremistas.

Em 2015, a condenada e seu então marido Taha Al-Jumailly, processado em Frankfurt em um julgamento paralelo, compraram uma menina de cinco anos e sua mãe da minoria yazidi, prisioneiras do EI, para explotar as duas como escravas, segundo a acusação.

Após vários abusos, a menina foi "castigada" pelo marido por ter urinado em um colchão. Na sequência, ela foi amarrada a uma janela do lado de fora da casa, a uma temperatura de quase 50°C.

A menina morreu de sede, enquanto sua mãe, Nora T., viu-se obrigada a permanecer a serviço do casal.

Acusada de ter permitido a ação do companheiro sem intervir, Jennifer Wenisch declarou na audiência que tinha medo de ser "empurrada, ou trancada".

Os advogados, assim como os de Taha Al-Jumailly, sugeriram que a menina poderia ter sobrevivido se tivesse sido levada para um hospital em Fallujah.



A versão foi contestada pela mãe da criança, Nora T., que hoje vive em um local não revelado da Alemanha. Testemunha-chave, a sobrevivente foi ouvida durante os julgamentos dos ex-cônjuges.

"Me tornei um exemplo de tudo que aconteceu sob o EI. É difícil imaginar que isto é possível em um Estado de direito", afirmou Jennifer, como forma de defesa, durante uma das últimas audiências, relata o jornal Süddeutsche Zeitung.

Jennifer Wenisch foi detida pelas forças de segurança turcas em janeiro de 2016, em Ancara, e extraditada mais tarde para a Alemanha.

Ela foi transferida para um centro de detenção apenas em junho de 2018, quando foi detida no momento em que tentava entrar com a filha de dois anos nos territórios ainda controlados pelo EI na Síria.

Durante a tentativa de fuga, a acusada contou ao motorista detalhes sobre sua vida no Iraque.

O motorista era, na realidade, um informante do FBI (a Polícia Federal americana) que dirigia um automóvel equipado com microfones. O MP utilizou as fitas para fazer a acusação.

Este é o primeiro julgamento relacionado aos crimes cometidos contra os yazidis, uma minoria curda da região norte do Iraque.

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