Jornal Estado de Minas

CARTUM

Abdel Fatah al-Burhan, um general discreto

O general Abdel Fatah al-Burhan, que nesta segunda-feira (25) dissolveu o governo de transição no Sudão, desempenhou um papel discreto como comandante do Exército até emergir das sombras no dia seguinte à queda do ditador Omar al-Bashir.



Com uma longa carreira militar sob a tirania de Bashir, este militar teve papéis de destaque no comando das forças terrestres, até que o tirano o nomeou inspetor-geral do Exército em fevereiro, dois meses antes de ser deposto.

A mídia sudanesa e analistas afirmam que Burhan coordenou o envio de tropas sudanesas ao Iêmen, integradas a uma coalizão liderada pela Arábia Saudita, que desde 2015 luta contra os rebeldes houthis, aliados do Irã.

Willow Berridge, que escreveu o livro "Civil Uprisings in Modern Sudan" e leciona história na Universidade inglesa de Newcastle, observa que Burhan trabalhou em estreita colaboração com os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF) sudanesas, que mais tarde o apoiaram.

"Precisamente, o papel neste último golpe das RSF, descrito por muitos como uma nova versão das milícias 'Janjaweed' que cometeram inúmeras atrocidades em Darfur, fará com que muitos sejam cautelosos", comenta.

O envio de tropas para o Iêmen em 2015 representou uma grande mudança em sua política externa, com Cartum rompendo seus antigos laços com Teerã e se juntando à coalizão saudita. O Sudão sofreu pesadas baixas no Iêmen.



Após a destituição de Bashir, Burhan foi empossado como líder interino em 11 de abril de 2019 e, posteriormente, assumiu a presidência do órgão governamental responsável pela transição para a democracia.

Mas, nesta segunda-feira, Burhan, usando sua habitual boina verde e uniforme militar, apareceu na televisão informando que o gabinete e o conselho soberano que ele liderava haviam sido dissolvidos. Ele então declarou estado de emergência nacional.

Essas declarações foram feitas depois que as forças armadas detiveram civis do governo interino, incluindo o primeiro-ministro Abdala Hamdok, após confrontos na capital.

Burhan deu o golpe aproveitando as divisões entre as facções que lideravam a transição e que resultaram em protestos de grupos opostos dias atrás.

O próprio Burhan foi o centro de protestos rivais, com alguns instando-o a assumir o governo, outros pedindo que ele o deixasse.

Como presidente do Conselho Soberano, Burhan consolidou os laços do Sudão com potências mundiais e atores regionais, incluindo os Estados Unidos e Israel.



Em fevereiro de 2020, reuniu-re em Uganda com o ex-primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.

- Conexões regionais -

Antes de liderar o Conselho Soberano sudanês, ele chefiou o conselho militar de transição que derrubou Bashir.

Ele então sucedeu o ex-ministro da Defesa do conselho, general Awad Ibn Uf, que renunciou.

As monarquias do Golfo são doadoras fundamentais para o Sudão, que após a derrubada de Bashir injetaram 500 milhões de dólares no banco central, parte de um pacote de 3 bilhões prometido, mantendo assim sua influência neste país.

Os manifestantes, que esperavam um governo civil depois de três décadas do governo de Bashir, viam Ibn uf como membro de seu regime.

Sua partida catapultou Burhan das sombras para chefe de Estado "de fato".

"Burhan tem um posto muito alto nas Forças Armadas, mas é basicamente um soldado veterano", confidenciou um oficial do Exército, sem se identificar.

"Ele nunca foi o centro das atenções como Ibn Uf ou o general Kamal Abdelmarof foram", acrescentou ele, referindo-se a outro ex-chefe do Exército.

Nos últimos meses, Burhan continuou a manter um perfil relativamente baixo, muitas vezes deixando outros membros do conselho militar à frente das câmeras de televisão.

No passado, Burhan foi adido militar do Sudão em Pequim.

Nascido em 1960 em Gandatu, uma cidade ao norte de Cartum, Burhan estudou em uma academia militar sudanesa e mais tarde no Egito e na Jordânia. Ele é casado e tem três filhos.



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