A maior mobilização nos cinco meses do governo Lasso, cujo gatilho foi o aumento de até 12% no preço do combustível, terminou com alguns confrontos entre policiais e manifestantes perto da sede do Executivo, em Quito.
"Vamos continuar com o segundo dia da mobilização e resistência a nível nacional", declarou Leonidas Iza, presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie).
A Conaie, que liderou o chamado às ruas, bloqueou vias em várias províncias equatorianas. Na capital, sindicatos e estudantes se somaram a uma passeata, apesar do estado de emergência em vigor há uma semana para combater o tráfico de drogas, embora direitos como os de reunião e protesto não tenham sido restringidos.
Cerca de 1.500 manifestantes, segundo o coronel da polícia César Zapata, participaram da passeata, que, no fim da tarde, gerou confrontos. A polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar protestos perto do palácio do governo.
A polícia restaurou a ordem no centro histórico e patrulhas motorizadas percorriam as ruas. Dezoito pessoas foram detidas durante o dia, segundo um relatório preliminar das autoridades.
"Venho reivindicar os direitos dos meus três filhos, que não têm trabalho desde o ano passado. Eles me ajudam a comer e estamos todos sofrendo, desesperados", desabafou María Elena Ponce, 58 anos, que agitava uma bandeira vermelha.
- 'Vamos resistir' -
Em Zumbahua, no centro andino, os manifestantes fecharam o acesso à localidade com pedras e pneus em chamas. Mulheres foram para as ruas com pedaços de pau e os homens com grandes pedras para dificultar a passagem.
"Fizemos essa convocação para rejeitar tudo o que o governo nacional está impondo", disse à AFP Julio César Pilalumbo, líder de Zumbahua, na província de Cotopaxi (centro) e de maioria indígena. "Vamos resistir e não vamos nos render a nenhuma repressão", acrescentou.
Leonidas Iza convocou com outros setores a manifestação contra as medidas econômicas de Lasso, que tomou posse em maio.
"A paralisação representa prejuízos para os pequenos negócios, que são o sustento de milhares de famílias e lares equatorianos. Diga #NãoÀParalisação, pela reativação e prosperidade do país inteiro", tuitou o presidente Guillermo Lasso.
A revolta social voltou em um Equador abalado pelo aumento dos homicídios e massacres carcerários, que neste ano deixam mais de 2.000 mortos nesse país de 17,7 milhões de habitantes, afetado também pela depressão econômica trazida pela pandemia.
A Conaje, que em 2019 também liderou manifestações violentas contra a eliminação de subsídios aos combustíveis deixando 11 mortos, rejeita os aumentos mensais aplicados desde 2020.
O presidente decretou um novo preço do galão de giesel para 1,90 dólar, em comparação com 1 dólar que custava há mais de um ano. O preço da gasolina comum ficou em 2,55 dólares. Ao mesmo tempo, anunciou um congelamento indefinido dessas tarifas, o que não acalmou o descontentamento popular.
O Equador, que exporta petróleo mas importa combustíveis, encara uma crise refletida na dívida externa de quase 46 bilhões de dólares (45% do PIB) e um déficit fiscal de 5% do PIB, além de 47% de pobreza e miséria e 28% de subemprego e desemprego.
Os indígenas, que participaram da queda de três presidentes entre 1997 e 2005, exigem que o governo congele os preços em 1,50 dólar para o diesel e dois dólares para a gasolina comum.
Em meio aos distúrbios, o governo apresentará ao Congresso - controlado pela oposição - reformas tributárias e trabalhistas que buscam reativar a economia, mas as quais os sindicatos temem que precarizem o mercado de trabalho.
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