O primeiro sinal concreto veio nesta quarta-feira (27), dois dias após o golpe de Estado do chefe do Exército, general Abdel Fattah al Burhan, a União Africana (UA) suspendeu o Sudão "até a restauração efetiva da autoridade de transição dirigida por civis".
Sob a ditadura de Omar al Bashir, o Sudão foi um pária para os países ocidentais. Os Estados Unidos adotaram severas sanções contra o regime por abrigar extremistas islâmicos, incluindo o líder da Al-Qaeda Osama bin Laden nos anos 1990.
O líder autoritário foi derrubado pelo seu próprio exército em abril de 2019 após grandes protestos nas ruas. Foi instaurado então um governo de transição de civis e militares, derrubado com o golpe de segunda-feira.
Esses dois anos colocaram o Sudão no caminho certo, afirma Alex de Waal, especialista sobre o país e diretor executivo da World Peace Foundation dos Estados Unidos.
Em dezembro, Washington o retirou de sua lista de países que patrocinam o terrorismo e neste ano abriu as portas para um perdão da dívida de 50 bilhões de dólares e a obtenção de novos fundos do FMI e do Banco Mundial.
- Suspensão de ajuda -
"Os interesses nacionais do Sudão foram atendidos com este lento caminho de reforma com assistência internacional que, finalmente, começava a chegar na quantidade necessária", disse De Waal.
Mas com a prisão do primeiro-ministro Abdala Hamdok, um economista internacional, e de outros membros civis do governo e dos órgãos que administravam a transição, os militares geraram "sérios riscos para o Sudão", diz um relatório do International Crisis Group.
Os Estados Unidos não demoraram a reagir. Horas depois do golpe, anunciaram a suspensão de um pacote de 700 milhões de dólares de ajuda econômica que visava apoiar a transição democrática do país.
Na terça-feira, a União Europeia também ameaçou suspender o apoio financeiro se os militares não restaurarem os líderes civis em seus cargos.
Foi acompanhada pelo Banco Mundial nesta quarta-feira, que suspendeu "os desembolsos de todas as suas operações no Sudão e parou de processar qualquer nova operação enquanto acompanhamos de perto e avaliamos a situação", disse o presidente da instituição, David Malpass.
O Sudão é um dos países menos desenvolvidos do mundo. No final de 2018, o preço do pão triplicou e levou aos protestos que acabaram afastando o ditador.
Nos últimos anos, o país sofreu escassez de medicamentos e outros produtos essenciais, enquanto a inflação ficou acima de 300%.
Após a queda de Bashir, as monarquias do Golfo depositaram 500 milhões de dólares iniciais em seu banco central como parte de uma ajuda prometida de 3 bilhões para manterem sua influência no país.
No entanto, embora o general golpista Al Burhan obtenha mais apoio financeiro dos países árabes, não compensará o oferecido pelas instituições internacionais e pelos doadores ocidentais, afirma De Waal.
O golpe "deixa potencialmente o Sudão extremamente isolado, voltando a um período em que era evitado pelo resto do mundo", explica.
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