A audiência, porém, precisou ser suspensa porque o ex-presidente não foi eximido da obrigação de guardar segredos de Estado, como explicou seu advogado Pablo Lanusse.
"Descobrimos hoje que o tribunal não conta com sigilo de inteligência para que Macri possa testemunhar", disse Lanusse ao deixar o tribunal.
À noite e pouco antes de viajar a Roma para participar da cúpula do G20, o presidente Alberto Fernández assinou um decreto para liberar Macri do sigilo sobre questões de inteligência e permitir sua declaração, indicaram fontes oficiais.
Não há, porém, informações de quando a audiência será retomada.
- Manifestação -
Lanusse alegou que o juiz Martín Bava "tem demonstrado sua animosidade contra Macri e sua pretensão de querer processá-lo antes das eleições" parlamentares de meio de mandato, marcadas para 14 de novembro, em que seu partido de centro-direita Juntos pela Mudança espera uma votação significativa.
Acompanhado de alguns simpatizantes e por ex-colaboradores de seu governo (2015-2019), Macri chegou à localidade de Dolores (200 km ao sul de Buenos Aires) uma hora e meia antes de sua audiência e foi recebido com um pequeno ato de apoio antes de entrar no tribunal.
"Estamos tranquilos. Sabemos o que fizemos e nossas boas intenções", disse Macri a seus seguidores, aos quais pediu que trabalhem por "uma cultura do poder sã, que inclua uma justiça imparcial".
Macri havia faltado às duas intimações anteriores: a primeira, por estar no exterior; e a segunda, por ter solicitado o impedimento do juiz Bava.
- "Pressão política" -
O submarino "ARA San Juan" da Marinha Argentina, um TR-1700 de fabricação alemã com 66 metros de comprimento, desapareceu em novembro de 2017 com 44 pessoas a bordo, quando patrulhava as águas argentinas. O navio foi encontrado um ano depois, a 900 metros de profundidade, com a ajuda de marinhas de outros países.
A denúncia sustenta que os familiares dos soldados mortos no naufrágio do "ARA San Juan" foram alvo de escutas telefônicas e de outras interceptações durante o ano em que tentavam descobrir o que aconteceu.
"Esperamos que Macri cumpra a lei e se apresente como cabe e que, em vez de tentar uma defesa absurda, nos diga a verdade sobre quais foram os motivos para nos espionar ilegalmente", disse à AFP Luis Tagliapietra, pai de um dos marinheiros e advogado demandante neste caso.
"Eu o denunciei em março de 2018. Naquele momento, não conseguimos avançar, porque era muito difícil", afirmou Luis hoje, na porta do tribunal de Dolores. "Está provadíssimo que ele espionava a gente e que isso era ilegal. Tomaram que nos digam o que motivou isso", completou.
- "Falsas acusações" -
Macri diz que se tratam de "falsas acusações" e tentou recusar o juiz, uma medida que foi rejeitada pela Câmara Federal de Mar del Plata na quarta-feira (27).
Em um tenso clima político, a Câmara Federal pediu ao juiz moderação em suas expressões, pelo "possível impacto social" de um caso com "repercussão midiática e institucional", devido ao cargo de ex-presidente de Macri (2015-2019).
Já estão sendo processados neste caso os então chefes dos serviços de Inteligência Gustavo Arribas e Silvia Majdalani.
O ex-presidente foi processado em 2010 por grampear ilegalmente um parente e vários adversários, quando era prefeito de Buenos Aires (2007-2015). O caso foi arquivado logo depois que ele assumiu a presidência em 2015.
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