Da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), onde conclui sua segunda missão, o astronauta revela para a AFP sua preocupação com o futuro do planeta, a poucos dias do início da COP26.
PERGUNTA: Quais imagens de catástrofes naturais mais impactaram você?
RESPOSTA: Os furacões e os incêndios florestais. Nunca vi nada igual. Fogos de uma magnitude incrível, com colunas de fumaça visíveis do espaço durante dias e dias... Foi chocante constatar a energia que era liberada e os danos sofridos pelas pessoas que tiveram o azar de estar em sua trajetória. Também vimos uma sucessão de tempestades tropicais extremamente impressionantes. Podia-se ver através do olho do ciclone. São paredes de nuvens de uma potência fenomenal, cada vez mais frequentes, mais destrutivas.
P: Ver a Terra daí de cima pela segunda vez em cinco anos reforçou sua ideia sobre sua fragilidade?
R: Sim, claramente. Ver o planeta da janela faz você pensar. Mas vê-la uma vez é suficiente: apenas com o passar dos dias no espaço, o simples fato de se distanciar, de ver a fragilidade da atmosfera, essa bolha de sabão que nos preserva da impossibilidade da vida no espaço, esse oásis incrível... Isso marca você para o resto da sua vida.
E, quando vemos as mudanças de longo prazo (evidentemente para além de cinco anos), você não consegue deixar de se sentir envolvido. Foi por isso que procurei me comprometer mais com o meio ambiente, como embaixador da FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura] para a proteção do planeta.
P: O que mais preocupa você no curto prazo? Que medidas urgentes precisam ser tomadas contra o aquecimento do clima?
R: O que é mais preocupante é que não conseguimos chegar a um acordo em nível internacional e que as questões econômicas sejam prioritárias em relação às questões ambientais. É um raciocínio "curtoprazista", dado que, no longo prazo, os lucros das empresas estão diretamente ameaçados pela mudança climática.
Quando você observa que a Grande Barreira de Corais australiana não entrou na lista de patrimônio mundial em perigo por causa da pressão do governo, você pensa que as prioridades não estão corretas, e isso é preocupante.
A primeira coisa a fazer é ouvir os especialistas, que dedicam sua vida inteira a dar respostas nos níveis local, regional, nacional e global. Você tem que tentar aplicá-las.
A prioridade número um é sair do carbono. Temos de dar prioridade à energia renovável, ou descarbonizadas... E depois aplicar medidas obrigatórias, ou seja, os acordos internacionais, com os quais os países se comprometeram. Para isso serve um fórum como a COP.
PARIS