O presidente Jair Bolsonaro chegou nesta segunda-feira (1/11) a Anguillara Veneta, no norte da Itália, para receber o título de cidadão honorário, em meio a manifestações contra e a favor da medida anunciada pela pequena cidade de seus ancestrais.
"Estou emocionado por estar aqui. Acho que dá para ver. Daqui saíram meus avós. Tenho o prazer de estar entre tantas pessoas boas", disse Bolsonaro no início do encontro, segundo a agência italiana AGI, já que a maioria dos veículos de imprensa tiveram o acesso impedido.
"Deus quis que eu fosse presidente do Brasil e estou honrando a família nesse país. Temos muito apoio popular. Estamos fazendo um grande trabalho, que o povo reconhece, ao contrário dos meios de comunicação", acrescentou o presidente no ato que durou cerca de quatro horas.
A chegada do presidente mobilizou militantes de esquerda e de organizações antifascistas, contrários a sua política de extrema-direita, assim como um setor da comunidade brasileira que mora na Itália.
Sob uma chuva persistente e em meio à neblina, representantes de vários partidos de esquerda, assim como do sindicato CGIL e da associação antifascista ANPI, protestaram de maneira pacífica na praça central, com bandeiras e cartazes contra a honraria ao presidente brasileiro.
"Que visite a cidade de onde vem sua família é justo, mas não que o apresentem como um modelo a seguir com a concessão do título de cidadão honorário", criticou Antonio Spada, vereador da oposição, em declarações à AFP.
A prefeitura de Anguillara Veneta, localidade de 4.000 habitantes da região de Vêneto, reduto do partido de extrema-direita Liga, mobilizou a polícia e forças de segurança para evitar confrontos.
"Fora Bolsonaro", afirmava um cartaz, enquanto outro, escrito a mão, declarava "Anguillara ama o Brasil, mas não Bolsonaro".
Entre os manifestantes mais indignados estava o missionário italiano Massimo Ramundo, que viveu por 20 anos no Brasil, 12 deles no Maranhão, estado que tem 34% do território ocupado pela floresta amazônica.
"É uma vergonha. Estou furioso com a prefeita desta cidade. Ela não sabe o que Bolsonaro fez e disse, não escutou suas declarações de teor racista, contra os indígenas, os vacinados, as mulheres. Além disso, ele quer que a Amazônia seja um negócio. Não respeita os valores do papa Francisco", afirmou o religioso.
Pequenos grupos de simpatizantes do presidente também compareceram à manifestação, organizada na cidade de onde sua família emigrou há mais de um século. Em sua maioria, os apoiadores são brasileiros que moram em várias regiões da península.
"Estou aqui para dizer que não está sozinho", declarou Silvana Kowalsky, 50 anos, que viajou de Vicenza, a 85 quilômetros de distância, para expressar seu apoio.
Com chapéus e bandeiras do Brasil, os simpatizantes do presidente gritaram palavras como "mito" e gritaram frases como "Lula ladrão", em referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu provável adversário nas eleições de 2022.
"É um grande presidente e tem o direito, porque é descendente de italianos. Tudo o que a CPI (do Senado) fala dele é mentira", afirmou o brasileiro Cláudio Resende, de 65, que mora na Itália há 17 anos.
A primeira visita de Bolsonaro à Itália, para participar no fim de semana do G20 e receber a cidadania honorária, ocorre em um contexto delicado, já que costuma ser fortemente criticado a nível internacional por relativizar a propagação do vírus e pela sua política ambiental.
O presidente concluirá o dia com uma visita à basílica de Santo Antônio de Pádua, onde também há manifestações de protesto.
Na terça-feira, antes de voltar para o Brasil, Bolsonaro visitará em Pistoya, a cerca de 200 km ao sul de Anguillara Veneta, o monumento erguido em homenagem a cerca de 500 soldados brasileiros mortos na Segunda Guerra Mundial, cujos corpos foram levados na década de 60 para o Brasil.