Jornal Estado de Minas

KHAN YUNIS

Há 65 anos, crise do Suez provocou a primeira ocupação israelense de Gaza

Sentado em seu sofá em uma sala sem janelas, Bassam Barbakh conta como a primeira incursão militar israelense em Gaza, há 65 anos, ficou marcada em sua memória.



"Jurei quando era criança que mesmo se chegasse a viver mil anos, não esqueceria do que aconteceu", diz o homem de 73 anos à AFP em sua casa de Jan Yunes, sul de Gaza.

A polêmica história israelense no enclave palestino inclui cerca de quatro décadas de ocupação, de 1967 à retirada em 2005 e um bloqueio desde 2007, ano em que os islamitas do Hamas chegaram ao poder no território.

Mas a primeira vez que Israel tomou controle de Gaza foi em 3 de novembro de 1956, quando o governador militar do Egito se rendeu às forças estrangeiras que queriam controlar o Suez, marcando o início de uma ocupação de quatro meses.

Esse período, no entanto, perdeu relevância no conflito israelense-palestino em comparação com a ocupação após a Guerra dos Seis Dias de 1967.

Israel indicou que os objetivos da invasão de Gaza de 1956 incluiam garantir a livre circulação pelos Estreitos de Tiran e reduzir os ataques dos combatentes guerrilheiros na Faixa.

Segundo o historiador Eyal Zisser, da Universidade de Tel Aviv, Israel determinou que as circunstâncias na Faixa de Gaza poderiam "desestabilizar" Israel pela agitação na fronteira e o acúmulo de forças egípcias no enclave.



"Do ponto de vista israelense, era uma situação inaceitável", disse Zisser, acrescentando que a crise do Suez criou uma "oportunidade" para intervir.

Em 26 de julho de 1956, o então presidente egípcio Gamal Abdel Nasser nacionalizou o Canal do Suez.

Com receio de que o trajeto fosse bloqueado, Reino Unido, França e Israel se uniram para atacar o Egito, e Israel tomou o controle de Gaza e da Península do Sinai. Se retirou dessas áreas em março de 1957 sob pressão dos Estados Unidos.

Um mercado cerca atualmente o antigo Castelo Barquq de Jan Yunes. Fora de seus muros, Barbakh aponta para as áreas onde diz que as tropas israelenses deixaram dezenas de corpos.

Mostrou à AFP fotos de dois de seus irmãos que, segundo ele, foram assassinados durante os confrontos.

A Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA) apontou em um relatório de dezembro de 1956 que "um grande número de civis morreu" em 3 de novembro em Jan Yunes, mas há "conflitos nos números registrados, assim como nas causas das mortes".

O exército israelense disse recentemente à AFP que após a tomada de Gaza, "cerca de 4.000 soldados egípcios e combatentes guerrilheiros e palestinos permaneceram lá dentro", muitos deles "vestidos como civis".

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