Jornal Estado de Minas

WASHINGTON

EUA revoga benefícios comerciais da Etiópia, cujo governo declarou estado de emergência

Os Estados Unidos anunciaram nesta terça-feira (2) o fim de importantes benefícios comerciais para a Etiópia, alegando abusos de direitos humanos do governo na região separatista do Tigré, enquanto a capital Adís Abeba declarou estado de emergência diante do avanço dos rebeldes.



O presidente Joe Biden notificou ao Congresso que a Etiópia será privada a partir de 1º de janeiro, assim como Guiné e Mali - dois países que sofreram golpes de Estado -, das preferências de tarifas concedidas por uma lei americana aos países da África subsaariana.

A Lei de Crescimento e Oportunidades para a África (AGOA), lançada em 2000, oferece a 40 países africanos amplas isenções alfandegárias para exportar seus produtos aos Estados Unidos desde que se comprometam a respeitar os direitos humanos e as condições de trabalho.

O Tigré, em meio a um conflito de quase um ano entre as autoridades dissidentes locais e as forças do governo do primeiro-ministro Abiy Ahmed, foi palco de massacres e violações em massa, denunciadas pelo secretário de Estado americano Antony Blinken como "atos de limpeza étnica".



Jeffrey Feltman, o enviado especial dos Estados Unidos para o Chifre da África, disse nesta terça-feira que as coisas não podem continuar "como de costume" com o governo da Etiópia, o qual acusou de dificultar intencionalmente a ajuda humanitária.

"Nenhum governo pode tolerar uma insurgência armada, nós entendemos, mas nenhum governo deveria adotar políticas ou permitir práticas que resultem na fome maciça de seus próprios cidadãos", disse Feltman no Instituto de Paz dos Estados Unidos, um centro federal que promove a resolução de conflitos.

A Etiópia, que nas últimas semanas pressionou para continuar sob a AGOA, deplorou a decisão que "reverterá importantes ganhos econômicos".

O conflito do Tigré começou em novembro de 2020 e experimentou uma mudança dramática desde junho.

Prêmio Nobel da Paz de 2019, o primeiro-ministro Abiy Ahmed proclamou vitória em 28 de novembro passado, poucas semanas depois de enviar o Exército a Tigré para destituir as autoridades regionais dissidentes da TPLF.

Em junho, porém, os rebeldes recuperaram a maior parte da região, forçando as tropas do governo a se recuarem. Ao mesmo tempo, continuaram sua ofensiva nas regiões vizinhas de Amhara e Afar.

A posterior propagação dos combates para as regiões vizinhas de Afar e Amhara deslocou centenas de milhares de pessoas e aumentou a crise humanitária que, segundo a ONU, deixou 400.000 pessoas à beira da fome.

Em setembro, as autoridades de Amhara estimaram que pelo menos 233.000 civis que fugiam do avanço rebelde encontraram abrigo em Dessie e em Kombolcha.

audima